In http://projetual.com.br/wp-content/uploads/2011/12/ideia.jpg
Absorvido pelas suas, o homem nem dava
conta das vezes que lhe pediam ideias emprestadas. “Dá-me uma ideia” – para
isto, para aquilo, para aqueloutro, como se fosse um compêndio inesgotável de
criatividade. Às tantas, era um aqueduto por onde fluía o caudal das ideias
abundantes. Em escasseando nos outros, não se importava de usar desta
generosidade.
Na exegese de si, admirava a
versatilidade criadora que palpitava, incessante. Sabia desdobrar fios
condutores sobre assuntos variados. Com a assertividade com que os peritos
elucubram sobre conhecimentos de que são primus
inter pares. O chapéu que fazia gala de trazer na cabeça era uma proteção
contra o efeito nefasto dos elementos. Podia ser que a chuva e os ventos e o
sol tórrido amputassem a capacidade criadora – daí o chapéu. Dizia-se
autodidata de muitos conhecimentos. Se fosse a um concurso que exigia
conhecimentos gerais de tudo e mais alguma coisa, tirava carta de milionário
(pela certa). Chegaram, uns mais chegados, a promover a ida a um tal concurso. Recusou
a pés juntos e bem vincados no chão: tinha horror à exposição pública e temia o
efeito dos holofotes. Sabia que ia capitular aos nervos que dele tomassem
conta. E, mais a mais, desprendido dos valores materiais como era, não via
grande préstimo em concursar.
Preferia ser um missionário das ideias de
que os outros careciam. Só ele conseguia sentir o conforto interior quando lhe
batiam à porta, ou chegavam pelo telefone, em demanda de uns subsídios intelectuais
que viessem converter em respostas as interrogações que mais pareciam
encruzilhadas. Às vezes, preferia sacrificar as ideias que esboçava no imenso
nada em que elas medravam (a bem dizer, nunca passara uma ideia para letra de
forma); saciava-se com os penhorados agradecimentos da coorte que
oportunisticamente o pajeava – sem que desse conta (não dos pajens em demorada genuflexão;
do oportunismo da função).
Tinha-se como a pessoa maior do mundo,
tamanha a generosidade das ideias que dava aos outros. Talvez de tamanho maior ainda
fosse o espelho em casa, onde se contemplava sucessivamente.
Sem comentários:
Enviar um comentário