Teddybears (ft. Iggy Pop), "Punkrocker", in https://www.youtube.com/watch?v=8P09rxVaQAM
Arranjava os escombros pavimentados sobre
o céu enegrecido. Marejados pela inocência, os olhos já não fugiam dos limites:
o cansaço estava em seu ócio, e os esgares ingénuos sobre o tempo vindouro já
não tinham serventia. Percebera: não fazia sentido a definitividade das coisas.
Percebera que as ambições tinham perna curta
quando os olhos açambarcam a totalidade do tempo ausente; era quando julgava
que as promessas de oráculos se jogavam contra as paredes viscosas, aquelas
onde as mãos não se agarram por temor de se conspurcarem com o opróbrio das
lembranças pútridas.
Afinal, não havia obras acabadas. Ou obras
ungidas pela perfeição, que os códigos secretos abrindo portas dos segredos
quase deificados eram algoritmos complexos, como se fosse preciso um computador
poderoso para os decifrar. Para quê gastar o tempo com inutilidades que o
desgastavam? Já não faziam sentido os combates interiores, os combates contra a
própria natureza do ser. Já não fazia sentido tirar as medidas das resoluções
pelos cantos sórdidos que vinham espiando a intimidade toda. As coisas eram
como eram. Sempre voláteis, pela sinuosidade em que se embebiam, pelas cores
baças que embotavam os contornos do nelas elas ia por dentro. Tudo era um
estaleiro, um enorme estaleiro onde tudo aparentava desorganização, um
amontoado caótico de ferramentas, os despojos de outrora depostos sem ordem
pelo chão, um quadro cintado pela inestética.
As coisas eram como eram – repetia, em
pensamento interior, para se convencer do pensamento que interiorizava. Serviu
para se convencer. Ou, talvez, porque a travessia do pretérito viera amolgada, pois
alguns foram os choques frontais. Mas agora, sabia que não fazia sentido ter
uma ambição que coubesse fora das suas medidas. Não fazia sentido exigir o impossível
– por mais que uns líricos apaixonados pela desrazão profetizassem, em verve
heroica, que somos a medida da impossibilidade. A definitividade vertida nos
lençóis malsãos era apedrejamento da condição presente.
O bem, é que os olhos, por marejados que
estejam, recusam a capitular na lucidez. Por mais que venham demónios
disfarçados prometer idílicos pedaços de céu que são apenas ilusões alquebradas,
os olhos não capitulam.
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