In http://mlb-s1-p.mlstatic.com/monreale-lindo-pingente-chupeta-de-ouro-18k-8430-MLB20004053649_112013-O.jpg
(Aviso
às pessoas sensíveis: texto com algum potencial pornográfico)
Umas perguntas perturbaram-me quando este
governo inventou vistos para milionários: por que se chamam vistos gold? Veio em Diário da República com o
adjetivo em língua inglesa? O que levou as autoridades a usarem o adjetivo em
inglês se não há problemas com a tradução da palavra para português? (Ainda se
fosse marketing, ou bail out, ou upgrade – ou qualquer outro tecnicismo que emprega o inglês como
língua franca e não dá uma tradução confortável para o idioma-mãe.)
Eu tenho uma explicação: lá no ministério
onde isto foi inventado andam com o imaginário preenchido com filmes XXX. Lembraram-se
de premiar magnatas de duvidosa origem com liberalidades de circulação desde
que investissem no pátrio território. Os vistos especiais tinham de levar com
um rótulo diferente, um rótulo sugestivo das condições especiais em que são
passados. Ora, os magnatas que querem visto especial têm cartões de crédito dourado,
tanta a abastança que alimenta as suas contas bancárias. “Bingo!”, terá exclamado o criativo de serviço no ministério da
tutela: “vamos chamar vistos dourados”.
Ao que um muito circunspecto, mas todavia lúbrico, superior hierárquico contrapôs:
“isso soa mal. Soa a coisas menos
próprias que vêm em filmes menos próprios.” (Mas que, todavia, ele
conhece.) “Vamos antes chamar...vistos
gold.”
Talvez nunca um nome (se retirarmos o
esconderijo da palavra inglesa) tenha retratado tão fielmente uma decisão de um
governo. Pois não é que a ideia dá cobertura a uma obscenidade? Não vale a pena
esgrimir a imagem do burro e da cenoura, para não ofender os magnatas que
querem ostentar um dourado visto emitido pelas autoridades portuguesas. O que
não lembra ao diabo, é as autoridades darem caução a possíveis lavagens (lá
está, outra vez, o conteúdo pornográfico a vir ao de cima) de dinheiro de
magnatas sem escrúpulos quando compram moradias e apartamentos de luxo só para
darem uso legal a dinheiro ganho por ilegais meios e meterem a mão num visto
especial. E depois vem o ministro da tutela, um conservador de velha cepa –
portanto: em teoria, avesso a devassidões e outras imoralidades – justificar
que os meios justificam os fins (angariar investimento, não interessa se tem
duvidosa proveniência), explicando às criancinhas, com aquela pose de ensinador
dos incautos, que não vem mal ao mundo quando um governo patrocina esta
obscenidade.
Depois percebi: a prostituição já conta
para calcular o PIB.
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