24.11.14

O que ainda não foi dito sobre os vistos gold

In http://mlb-s1-p.mlstatic.com/monreale-lindo-pingente-chupeta-de-ouro-18k-8430-MLB20004053649_112013-O.jpg
(Aviso às pessoas sensíveis: texto com algum potencial pornográfico)
Umas perguntas perturbaram-me quando este governo inventou vistos para milionários: por que se chamam vistos gold? Veio em Diário da República com o adjetivo em língua inglesa? O que levou as autoridades a usarem o adjetivo em inglês se não há problemas com a tradução da palavra para português? (Ainda se fosse marketing, ou bail out, ou upgrade – ou qualquer outro tecnicismo que emprega o inglês como língua franca e não dá uma tradução confortável para o idioma-mãe.)
Eu tenho uma explicação: lá no ministério onde isto foi inventado andam com o imaginário preenchido com filmes XXX. Lembraram-se de premiar magnatas de duvidosa origem com liberalidades de circulação desde que investissem no pátrio território. Os vistos especiais tinham de levar com um rótulo diferente, um rótulo sugestivo das condições especiais em que são passados. Ora, os magnatas que querem visto especial têm cartões de crédito dourado, tanta a abastança que alimenta as suas contas bancárias. “Bingo!”, terá exclamado o criativo de serviço no ministério da tutela: “vamos chamar vistos dourados”. Ao que um muito circunspecto, mas todavia lúbrico, superior hierárquico contrapôs: “isso soa mal. Soa a coisas menos próprias que vêm em filmes menos próprios.” (Mas que, todavia, ele conhece.) “Vamos antes chamar...vistos gold.
Talvez nunca um nome (se retirarmos o esconderijo da palavra inglesa) tenha retratado tão fielmente uma decisão de um governo. Pois não é que a ideia dá cobertura a uma obscenidade? Não vale a pena esgrimir a imagem do burro e da cenoura, para não ofender os magnatas que querem ostentar um dourado visto emitido pelas autoridades portuguesas. O que não lembra ao diabo, é as autoridades darem caução a possíveis lavagens (lá está, outra vez, o conteúdo pornográfico a vir ao de cima) de dinheiro de magnatas sem escrúpulos quando compram moradias e apartamentos de luxo só para darem uso legal a dinheiro ganho por ilegais meios e meterem a mão num visto especial. E depois vem o ministro da tutela, um conservador de velha cepa – portanto: em teoria, avesso a devassidões e outras imoralidades – justificar que os meios justificam os fins (angariar investimento, não interessa se tem duvidosa proveniência), explicando às criancinhas, com aquela pose de ensinador dos incautos, que não vem mal ao mundo quando um governo patrocina esta obscenidade.
Depois percebi: a prostituição já conta para calcular o PIB.

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