13.11.14

Aos jardins alindados


Mazgani, "Distant Gardens", in http://www.youtube.com/watch?v=cK0Ih8wxdEc
Vamos sem destino. Vamos apenas por onde encontrarmos jardins que sirvam de colo ao nosso cansaço. Metemos as mãos nas flores perfumadas e por elas ungimos o corpo com o doce pólen que delas vem. Vamos de jardim em jardim, sem rota no mapa. Experimentando o ar agreste das montanhas a que temos de subir antes de outro jardim se oferecer como nossa testemunha. Bebendo a água fresca dos regatos quando descemos às profundezas dos vales. Vamos com o tempo todo, como se o tempo fosse infinito. Porque sabemos que nas mãos enlaçadas, quando a pele fala com a outra pele, o tempo é imorredoiro. As árvores carnudas que solavancam com o vento dão-nos sombra, dão-nos tela para pintarmos as aguarelas que imortalizam a viagem. Deixamos para trás jardins a que não queremos voltar, pois queremos tomar posse nos muitos outros jardins que há por conhecer. Intuímos que são todos diferentes. Muda o espaço e vem outra geografia do arvoredo, os lagos centrípetos que alindam jardins e noutros são omissos. Sentamo-nos nos típicos bancos dos jardins e olhamos, de olhos fechados, ao céu resplandecente. Ouvimos o chilrear dos pássaros escondidos nos ramos das árvores. Passamos por jardins frondosos, por jardins que estreitaram a folhagem das árvores mercê do ditar outonal que tornou caducas as folhas imprestáveis. E, todavia, aceitamos que são paisagens embebidas numa beleza singular; as folhas que acamam o chão em redor não são morte, são uma pincelada arrematada ao zimbório da estética. Passamos diante dos lagos onde boiam os nenúfares em partilha com os gansos. Ouvimos o grasnar dos gansos a par do ciciar dos pássaros incógnitos e do arrastar do vento na folhagem das árvores. Alimentamos o olhar com as cores luxuosas das flores (e tu dizes-me o nome das flores todas). Os jardins desta feição nunca são distantes. Estão à mão do nosso saber. E vamos longe, tão longe que nem se imagina como é feita tanta distância. Sem sairmos do lugar. Porque nos entronizamos reis do território onde medra a imaginação.

Sem comentários: