Mazgani, "Distant Gardens", in http://www.youtube.com/watch?v=cK0Ih8wxdEc
Vamos sem destino. Vamos apenas por onde encontrarmos
jardins que sirvam de colo ao nosso cansaço. Metemos as mãos nas flores
perfumadas e por elas ungimos o corpo com o doce pólen que delas vem. Vamos de
jardim em jardim, sem rota no mapa. Experimentando o ar agreste das montanhas a
que temos de subir antes de outro jardim se oferecer como nossa testemunha. Bebendo
a água fresca dos regatos quando descemos às profundezas dos vales. Vamos com o
tempo todo, como se o tempo fosse infinito. Porque sabemos que nas mãos
enlaçadas, quando a pele fala com a outra pele, o tempo é imorredoiro. As árvores
carnudas que solavancam com o vento dão-nos sombra, dão-nos tela para pintarmos
as aguarelas que imortalizam a viagem. Deixamos para trás jardins a que não
queremos voltar, pois queremos tomar posse nos muitos outros jardins que há por
conhecer. Intuímos que são todos diferentes. Muda o espaço e vem outra
geografia do arvoredo, os lagos centrípetos que alindam jardins e noutros são
omissos. Sentamo-nos nos típicos bancos dos jardins e olhamos, de olhos
fechados, ao céu resplandecente. Ouvimos o chilrear dos pássaros escondidos nos
ramos das árvores. Passamos por jardins frondosos, por jardins que estreitaram
a folhagem das árvores mercê do ditar outonal que tornou caducas as folhas
imprestáveis. E, todavia, aceitamos que são paisagens embebidas numa beleza
singular; as folhas que acamam o chão em redor não são morte, são uma pincelada
arrematada ao zimbório da estética. Passamos diante dos lagos onde boiam os nenúfares
em partilha com os gansos. Ouvimos o grasnar dos gansos a par do ciciar dos pássaros
incógnitos e do arrastar do vento na folhagem das árvores. Alimentamos o olhar
com as cores luxuosas das flores (e tu dizes-me o nome das flores todas). Os jardins
desta feição nunca são distantes. Estão à mão do nosso saber. E vamos longe, tão
longe que nem se imagina como é feita tanta distância. Sem sairmos do lugar. Porque
nos entronizamos reis do território onde medra a imaginação.
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