Death
in Vegas, “Dirge” (live on Later on Jools Holland), in https://www.youtube.com/watch?v=Hd6dDRrtyHM
As nuvens carregadas
acastelam-se, impedem o céu. E, todavia, refulgem uns raios interiores que
atiram sol para cima das nuvens. Pode o processo demorar. Das nuvens transpira
um sobressalto, o ciciar de um pássaro malsão, ou um sussurro que faz ferver as
veias, embaciando o sono com pesadelos tonitruantes.
O estado de espírito vai
de arrasto, contaminado pelas impurezas embotadas nas nuvens plúmbeas que reivindicam
o horizonte. É preciso pôr tempero nas veias ferventes. É preciso domar os
fantasmas que povoam pesadelos que são intrusos no sono. Nem que seja preciso
calar o pássaro malsão atirando o sol interior, o sol que irradia da grandeza
que há por dentro, contra as nuvens sombrias. Até que a luminescência pura que
vem das profundezas derrote as nuvens teimosas e o olhar entristecido seja
maquilhado pelo sorriso que esbraceja a latitude do ser maior.
Impõe-se tirar as medidas
às coisas que importam. Não, às apoquentações não se faz de conta. Apenas são
metidas no prato pequeno da balança, onde habitam as oscilações que alquebram
os ossos sem os conseguirem partir. Num jogo de pesos e contrapesos, as forças
interiores que comandam o pensamento são o juiz do ar matinal e fresco que vem
temperar as veias ferventes. E mesmo que logo a seguir à tempestade desatada (a
tempestade anunciada pelo peso carregado das nuvens que hipotecaram o céu) os
sobressaltos sejam a expressão da febre interior, o juiz do pensamento consegue
afugentar os bandos de pássaros que ameaçam com a loucura.
Não podem ser madraças as
entranhas contaminadas pelo torpor das nuvens opacas. É que a deferência
desfralda as sementes da tempestade que se avizinha. Para a tempestade não sequestrar,
deve o sol interior sobrepor-se às nuvens plúmbeas. Desfeitas a resíduos sem importância,
derrota-se a tempestade antes que ela se componha no medonho artifício dos
elementos indomáveis. Calibrando o estado de espírito.
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