The Wraygunn
(com Adolfo Luxúria Canibal), “Não vou perder a alma”, in https://www.youtube.com/watch?v=TpSFVX9j9N0
Ah, as seduções avulsas
que embaciam a lucidez. Os mafarricos vários escondidos sob capas estultas que,
todavia, soam a encantadoras indumentárias. As viciosas dependências (assim de
propósito, como redundância) que atam a vontade. As marés tentadoras, mesmo
quando o corpo sabe que elas são um veneno que se mete dentro de si. Os
pronunciamentos solenes que atiram o pensamento para a ilusão. O correspondente
palco paralelo que não é se não um simulacro do palco que não dissolve a
vontade. Os arrependimentos de tudo isto, quando a lucidez retoma o lugar. E,
logo a seguir, mais lenha atirada para a fogueira da desrazão: e se tudo o que
julgamos ser o palco a que atribuímos o império da vontade não é o sítio onde
habita a paralela dimensão de tudo?
O pensamento mergulha na
imensa confusão. Não é capaz de tirar duas conclusões que se achem dentro da
logicidade. O próprio conceito de lógica perde sentido. O sentido perde
sentido. As palavras ficam sitiadas de uma vacuidade terrível. Deixa de haver
etimologia do pensamento. No irredentismo das tentações que se simulam dentro
de um ardil, o pensamento derrete-se no seu sentido ilógico.
As janelas tremem com o
vento furioso. Pode ser um dos mafarricos que se insinuou angélica figura a
cobrar o preço dos prazeres alquebrados. Quer levar a alma para perdoar a
dívida. Ou, em vendo bem as coisas, a fatura é o penhor da alma. Os falsos
querubins das volúpias fáceis tiram a máscara, deixam à mostra ao que vieram.
Afinal, talvez sejam embaixadores de uma qualquer castradora divindade, zelosa
dos comportamentos irrepreensíveis, temente por nós dos descaminhos que nos
atiram para o abismo da imoralidade.
Não: não caímos no ardil
do hedonismo. Não somos vítimas fáceis dos ardis dos falsos querubins que
dissimulam a demoníaca face que nos quer empenhar a alma. Somos reféns das
divindades todas de quem se diz quererem que sejamos ovelhas ordeiras. Se não
forem os diabos a querer levar a alma, são os deuses. O desafio é hercúleo. É
difícil não capitular. É difícil que a alma não se empenhe, ora aos mafarricos
disfarçados, ora às cândidas divindades. Talvez o segredo esteja na semântica.
Na revisão dos conceitos. Do sentido das palavras. No império da liberdade e da
vontade que reside dentro de cada um. Só assim a alma está livre de atos
hipotecários.
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