Nitin
Sawhney, “Ek Jaan”, in https://www.youtube.com/watch?v=PYkHUWInRGQ
Não são as areias soltas
que destemperam. Não são as nuvens esparsas a embaciar o sol. Não são os gritos
estridentes dos infantes na piscina. Não são os arrivistas. Não são os olhos
salgados que, por salgados estarem, deixam de ver.
Aliás, salgados os olhos ganham
uma lucidez ímpar. Tudo o que vem de frente ganha uma nitidez inigualável. Os
véus descobrem-se. A claridade sonda os dedos e os olhos perfumam-se como nunca
o foram. Os dantes não interessam. Os ponteiros dos relógios são ausências
certas, na própria ausência dos relógios. Domamos o tempo. Fazemos dele o que
queremos. Fazemos o queremos. Sem peias, sem mandamentos. No tempero do mar,
recolhemos um bálsamo para o tempo vindouro. É como se renascêssemos. Como se
fôssemos ao fundo de nós encontrar a pureza, e depois nos perdermos pelas avenidas
que construímos no recolhimento das ameias que erguemos.
Há um lá fora que só
interessa quando mandemos que assim seja. Fora disso, é a vastidão sob os
nossos pés, os armários em que repousamos o pensamento, um refrigério
necessário que avaliza a inércia. E, todavia, talvez a tanta preguiça seja
lenitivo para sermos imperadores. Do império que nos pertence, o império que
tem préstimo. Sabemos que o saber de sermos um só levita neste tempo madraço.
Sabemos o que temos de saber, o que nos importa saber. É a ciência maior: uma
bússola interior que percorre as veias e aligeira o peso da existência. É por
isso que nos sentimos com a leveza de uma andorinha. E voamos para os lugares
que queremos que sejam nossa tutoria, quaisquer que sejam, no tempo que nos
aprouver. É uma doce hibernação. Um ensimesmar. Talvez egoísta. Mas não importa.
Pois é um egoísmo que não diz respeito a mais ninguém.
Nas arcadas da noite,
quando os lençóis se aquecem com a quimera dos corpos, somos maestros da
orquestra maior. Da que somos seus exclusivos intérpretes. De fora deste tempo,
todas as demais coisas parecem irrisórias.
Sem comentários:
Enviar um comentário