Ride, “Dreams
Burn Down”, in https://www.youtube.com/watch?v=tsmHP3ce010
Muito mundo é o devir. Um
sonho que se faz vivo. As muitas terras por visitar – sempre mais em número do
que as já demandas. Muitas línguas por conhecer. Muitos aromas. Muitas as
gastronomias que se embebem numa que é a cultura local. As idiossincrasias, até
aquelas que mostram hábitos que, pela lente daqui, julgamos repugnantes. As
peugadas que procuramos em mapas de viagens escondidos. Em cada fragmento de
paisagem que vier a ficar retratado. Os mares atravessados. Os comboios pelas
estepes fora. As montanhas ao fim da paisagem e os sopés nevados enfim
atingidos. Caminhadas longas, sacudindo mosquitos da roupa que se cola ao corpo
mercê da humidade que se atravessa na tórrida temperatura. Hotéis.
Restaurantes. Museus. As cidades todas diferentes. Os edifícios icónicos que
nelas habitam. E os habitantes com as suas histórias pessoais, as lições sobre uma
cultura, as palavras impronunciáveis que se aprendem, as noites em que
mergulhamos. Nas quatro partidas do mundo, nas quatro estações do ano. Sem
plano. Sem datas. Sem pressas. Somos trota mundos. Para embeber um pouco do
muito mundo dentro da pele e trazê-lo de volta a casa – pois há sempre um porto
que nos espera para nele fundearmos. E sabermos que ao cabo da longo jornada
somos mais um pedaço do mundo que há, e sabemos que fica ainda muito mundo por
conhecer. Não queremos saber do mundo muito que ficou sem a nossa visitação. Só
tomamos conta do império que veio às nossas mãos. O muito mundo que trazemos
connosco, património irrecusável que nos fez maiores do que os maiores. Quando
fundearmos, e quando já estiverem arrematadas em seu lugar as memórias de todo
este mundo, talvez comecemos a pensar nos planos para ir em demanda de outro
tanto mundo. O corpo só se cansará quando ficarem as forças à míngua. Nessa
altura, tirando todo o muito mundo que estiver alojado em nós, já não conta
sabermos que ficou ainda mais mundo por conta do conhecimento. A finitude de
nós não pode derrotar a infinitude do mundo.
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