1.6.15

Muito mundo


Ride, “Dreams Burn Down”, in https://www.youtube.com/watch?v=tsmHP3ce010
Muito mundo é o devir. Um sonho que se faz vivo. As muitas terras por visitar – sempre mais em número do que as já demandas. Muitas línguas por conhecer. Muitos aromas. Muitas as gastronomias que se embebem numa que é a cultura local. As idiossincrasias, até aquelas que mostram hábitos que, pela lente daqui, julgamos repugnantes. As peugadas que procuramos em mapas de viagens escondidos. Em cada fragmento de paisagem que vier a ficar retratado. Os mares atravessados. Os comboios pelas estepes fora. As montanhas ao fim da paisagem e os sopés nevados enfim atingidos. Caminhadas longas, sacudindo mosquitos da roupa que se cola ao corpo mercê da humidade que se atravessa na tórrida temperatura. Hotéis. Restaurantes. Museus. As cidades todas diferentes. Os edifícios icónicos que nelas habitam. E os habitantes com as suas histórias pessoais, as lições sobre uma cultura, as palavras impronunciáveis que se aprendem, as noites em que mergulhamos. Nas quatro partidas do mundo, nas quatro estações do ano. Sem plano. Sem datas. Sem pressas. Somos trota mundos. Para embeber um pouco do muito mundo dentro da pele e trazê-lo de volta a casa – pois há sempre um porto que nos espera para nele fundearmos. E sabermos que ao cabo da longo jornada somos mais um pedaço do mundo que há, e sabemos que fica ainda muito mundo por conhecer. Não queremos saber do mundo muito que ficou sem a nossa visitação. Só tomamos conta do império que veio às nossas mãos. O muito mundo que trazemos connosco, património irrecusável que nos fez maiores do que os maiores. Quando fundearmos, e quando já estiverem arrematadas em seu lugar as memórias de todo este mundo, talvez comecemos a pensar nos planos para ir em demanda de outro tanto mundo. O corpo só se cansará quando ficarem as forças à míngua. Nessa altura, tirando todo o muito mundo que estiver alojado em nós, já não conta sabermos que ficou ainda mais mundo por conta do conhecimento. A finitude de nós não pode derrotar a infinitude do mundo.

Sem comentários: