25.6.15

E não somos todos imbecis?

Eagles of Death Metal, “Speaking in Tongues”, in https://www.youtube.com/watch?v=bnrS4lFnGQk
Umberto Eco lamentou que as redes sociais deram voz aos imbecis. Mas será mesmo um lamento?
Tempos modernos, vícios novos. Tempos modernos, novos formatos de características pessoais. Diz-se que as redes sociais cristalizam a democratização da palavra na ponta de um teclado em qualquer computador, à disposição de qualquer pessoa. Escreve-se, opina-se, perora-se, desabafa-se, reflete-se, interroga-se, contrapõe-se, denuncia-se, apostrofa-se – e tudo o mais que se possa supor, com o beneplácito das redes sociais que, ainda por cima, são gratuitas e intuitivas.
Dantes, a imbecilidade notava-se quando as pessoas falavam, ou quando manifestavam certos comportamentos. As pessoas não se punham nuas através da palavra escrita. Hoje, a palavra é partilhada com a imensidão que é um público virtual que possa esbarrar nessa palavra. Dantes, a imbecilidade andava mais escondida. Agora, tornou-se democrática, nua – ou vulgarizou-se, no sentido de que se tornou mais vulgar pela maior frequência com que aparece vertida na palavra escrita publicada em formato virtual.
Umberto Eco lamentou este fruto da inovação tecnológica. Num certo sentido, percebo-o: quantas vezes não acontece lermos palavras que, pelo nosso estalão julgador, tomamos como imbecilidades? E quantas vezes não ficamos irritados com as exibições de estultícia? (E mais ainda quando são disfarçadas de engenho intelectual, como se fossem o pó de arroz de uma erudição esfregada nas fuças do cidadão comum.) Mas é possível fruir um sentido diferente quando os imbecis ostentam imbecilidade em público (sobretudo quando se acham ungidos de uma dose de intelectualidade acima da média): os imbecis são engodo humorístico. Dispõem bem. Uma barrigada de riso, depois de os ler.
Os candidatos à imbecilidade, aqueles que destapam o véu da timidez e publicam em letra de forma para a imensa comunidade virtual que consome o género, devem interiorizar o risco associado à função. Não somos apenas julgadores do que os outros escrevem. Também somos julgados pelo que escrevemos. O problema: é sempre mais fácil detetar a imbecilidade alheia. Eu, por exemplo, não dou conta dos disparates que publico por aqui.

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