Caribou,
“Silver”, in https://www.youtube.com/watch?v=EMCQtO6lMY0
Tenentes das coisas
visíveis garantem que a noite tem uma lua. Porque a Terra tem uma lua. E que só
podemos ver aquilo que o olhar alcança, que por sua vez é determinado pelo
espaço físico ocupado pelas coisas. Dizem-nos que não adianta inventar. Que
podemos estar sitiados pela alucinação se teimarmos que a noite tem várias
luas. E que o demais é apenas poesia.
Pois nós mantemos: a
noite tem muitas luas. Não sabemos ao certo quantas são as luas que povoam o
firmamento. Só sabemos que são muitas. E isso é que conta. Ajuramentamos a
pluralidade dos luares. Pois o que importa é que pela lente do nosso olhar
surjam múltiplas luas irradiando uma luz branca que quase cega. Chamem-nos lunáticos;
diremos que vem a propósito. Pois lunático é quem vive na lua. Ora se nós
abraçamos no olhar tantas luas, ninguém melhor do que nós para receber a coroa
de lunático. Sejamos, pois, entronizados reis dos luares. De todos os luares
que a nós vierem. Façamos poesia, se preciso for.
Dispensamos o tirocínio
generosamente legado pelos tutores da verticalidade do real. Dispensamos as
lições que soam a pronunciamentos piedosos, quase como se estivéssemos no
limiar do hospício. Dispensamos juízos outros. Só contam os juízos que
elaboramos na lhaneza das almas purificadas pelos luares radiosos que enfeitam
a noite. Tudo o que queremos é um lago imenso de águas mansas a refletir as
várias luas que são o trono do céu escuro. Queremos meter os pés no lago, caminhar
sobre as águas calmas, deitar as mãos na imagem retratada de cada lua. E depois
retirar da água a imagem de cada lua, deitá-la nas mãos e conservar o ouro
branco que deixou em forma de vestígio. Depois, depois fazemos um banho com o
ouro todo que as mãos vertem sobre os nossos corpos. Para sermos embaixadores
das luas. E poetas magníficos.
Toda a luz alva que nos
cobre: vacina contra os sobressaltos, espada erguida que trespassa os intrusos
que tiverem o topete de serem malquista presença, manual da existência simples.
Com toda esta luz branca, somos faróis que derrotam a escuridão da noite. Não
há noite que nos amedronte. Até dela saem poemas ungidos pela luz branca que
nos cobre.
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