Joy
Division, “New Dawn Fades”, in https://www.youtube.com/watch?v=7XRfeZJjOkI
Preciso de uns óculos
para me ver de fora para dentro. Preciso de perceber os freios que comandam a
omissão. Preciso de sair de mim e de fora ver o que os outros vêm. Preciso de
viajar pelas imediações de mim, sentir o odor que de lá vem, o arquear do dorso
enquanto ando, as rugas que pautam o envelhecer, e como a madurez tinge de
cores neófitas o tempo passante. Preciso. Nem que seja para fazer uma rasante
às fronteiras de mim, sentir o chão que sou, apalpar a pele suada, ver de que
cor vêm perfumados os olhos enquanto se marejam na urgência do porvir. Quero
saber o espaço vital que sou. Quero ler de fora de mim as palavras que deixo
emolduradas. Pois preciso de um lugar centrípeto de onde saia de uma catarse
que possa não ser necessária. Talvez precise de perceber que sou quem sou. De
aprender a conviver com as bússolas errantes, subindo aos promontórios de onde
se alcançam as alvoradas enquanto nos lugares correntes ainda se faz noite.
Amadurecendo a singeleza deste eu. Sem ambicionar as desmedidas que não são
sonhos, antes pesadelos que furtam o chão aos pés sedentos de tempo. Quero
sentir o sangue que vai nas veias. A dor que se deita na carne, quando a dor
ganha trono no horizonte das coisas. Preciso que o oxalá deixe de ser
consumição perene. E que os ponteiros sejam estalajadeiros que gratificam os
dias passantes. Sem pressa, mandando borda fora a urgência que desautoriza o
sortilégio do tempo. Preciso de sentir que não sou refém de mim mesmo. Preciso
de uma medida desassombrada que ensine os passos todos, como se de um infante
se tratasse ao aprender a andar. E preciso que me digam, em sussurro doce, que
não sou destravado e funâmbulo, equinócio de inconsequências, santuário de
vívidas peles complexas que descamam e deixam o nu à mostra. Deixo os lugares
vazios, todos os lugares, à espera de me desacorrentar dos pesadelos cáusticos.
Para deixar o lugar sitiado e mostrar, embebido em orgulho, as mãos
desenfreadas ungidas a bondade, as palavras apenas dóceis e o olhar refulgente.
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