Spoon,
“They Want My Soul”, in https://www.youtube.com/watch?v=gPlJ0ecD9Ew
(Depois de ler Yanis
Varoufakis, “O Minotauro global: os Estados Unidos, a Europa e o futuro da
economia global”, Lisboa, Bertrand Editores, 2015)
Parece uma narrativa de
conspiração. Ou a necessidade de exorcizar os fantasmas que atormentam uma
ideologia. É mesmo assim: tão categóricos que falam em nome da verdade, como
quem se acha o seu tutor e não admite que outros, os que pensam diferente (o
que, já de si, é heresia), duvidem da verdade assim dita e se revejam noutra.
Curiosamente, vêm de sítios onde (quando convém) se teoriza o relativismo. Que,
deviam lembrar-se nestas alturas em que os imperativos categóricos (que são
convenientes) assomam, aceita as cores variáveis da verdade, ou até admite que
a verdade é um sofisma.
Estes são tempos difíceis.
A crise morde na carne. Critica-se a indolência dos mandantes, que devolveram –
e em dose reforçada – o poder aos homens de negro que sinistramente dominam a
finança e, pela finança, dominam tudo. A começar nos mandantes, reduzidos a
simples lacaios. Os homens que vestem sempre de negro, na finança como nas
organizações internacionais que traçam a régua e esquadro políticas de salvação
que deixam as terras salvas entregues ao cadafalso da penúria. Estas medidas
parecem feitas à medida dos homens que vestem de negro: desapiedadas, como se
aos seus fautores não fosse reconhecida a existência de coração, humanos
desumanizados.
A parte de uma
conspiração global: para os mais ricos, os que exercem influência e distribuem
recompensas que seduzem, engrossarem a abastança. E os mais pobres reduzidos a
mais pobreza, a mais dependência, num acantonamento de miséria (material e
moral) que tem de ser denunciada. E tudo isto é intencional. Os abastados,
inebriados pela ganância e pelos frutos materiais da riqueza, estão a condenar
os desvalidos à miséria. Talvez sejam ignorantes; talvez estejam apenas
embriagados pela ganância; talvez vivam numa torre de marfim, de onde não
avistam a miséria que apoquenta os pobres. Os homens vestidos de negro, com
prebendas generosamente distribuídas pelos poderosos da finança, são diligentes
no cumprimento da vontade destes. Uns e outros desconhecem o potencial de
sublevação dos desvalidos. Não conhecem a história. E como ela (juntamente com
a irreprimível ganância) lhes pode ser fatal.
Nesta narrativa
apocalíptica, não entendo duas coisas. Primeiro, o excesso de pessimismo
antropológico de quem o não era (os críticos deste estado de coisas), que
parecem, em volte face oportunista, terem sido convertidos àquele pessimismo.
Segundo, a perene desconfiança dos intérpretes da finança e dos seus putativos
lacaios (os mandantes). A menos que também creiam na genética ignorância da
casta, a teoria da conspiração não faz sentido. Seria como os da alta finança,
de braço dado com os lacaios que comandam, servirem a cabeça na guilhotina do
povo reduzido à miséria e sedento de libertação deste jugo.
Não bate certo. O que
leva as possíveis explicações para outro lado. Uma argumentação que tem o
esteio do pretexto, em vez do argumento. Sitiados pelo ideologia.
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