Nadine
Shah, “Fool”, in https://www.youtube.com/watch?v=XvNH9byrPpo
Numa terra massacrada, o
povo pega no leme. Insurge-se. Quer saber das responsabilidades. Em vez de
deitar o olhar em modo prospetivo, quer avivar as cores retroativas.
Quase toda a gente (até
os mais abastados) sentiram a jugular apertada. Dizem que foi mercê dos erros
sem fim que tingiram o pretérito – ou de um pretérito perfumado por indulgências.
Dizem que esses erros não foram contingência da avaliação, da errada, mas não
intencional, avaliação. Alguns gurus que proclamam a liberdade dos espíritos
mas, contudo, não se coíbem de ensinar o caminho decente a esses espíritos,
decretam sentenças liminares: houve intencionalidade nesses erros.
Por isso é que se devem
decantar as responsabilidades. Por isso é que o povo, sedento de justiça pelas próprias
mãos (ao arrepio da moderação que é a separação de poderes) não cessa de fazer
a interrogação latente: “o que vamos fazer daqui para trás?” Sem perceberem,
toldados pela cegueira e pela embriaguez do poder (que, afinal, a todos
embriaga), desperdiçam a oportunidade de tirar as medidas ao porvir. Guardam no
coldre a espada que podia cinzelar os tópicos da mudança requerida. Talvez não
saibam como se faz. Daí refugiarem-se no cálculo das responsabilidades
pretéritas. Daí não cessarem de perguntar uns aos outros: “o que vamos fazer
daqui para trás?”
Afinal, a contingência
está no pessimismo que consome as pessoas. Há-as assim, pessimistas, em todos
os quadrantes. Varia, o peso plúmbeo do céu sobre os olhos das gentes,
consoante a posição em que elas se investem. O que interessa aos gurus do povo
apoderado é saldar contas com o passado. Encarcerando, de preferência, os que
lá atrás foram artífices do desarranjo. Não querem saber do que estava para
vir. Talvez soubessem, ao repousarem na almofada noturna, que o que estava para
vir superava as suas capacidades. O ardil é apagar a urgência do tempo presente
com as malfeitorias cometidas lá atrás.
Assim como assim, o
estado comatoso é produto desse passado. O povo não sossega enquanto não lhe
derem resposta à interrogação que adeja. Era imperativo encontrar um caminho
dali para trás. O dali para a frente, que ficasse ao deus-dará.
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