16.6.15

No desterro do desconhecimento

Pond, “Sitting Up on Our Crane”, in https://www.youtube.com/watch?v=q1vpFmRtb3c
Às vezes, apetece desconhecer. Só que aqui o verbo não é trivial: desconhecer, como quem desfaz conhecimento que se arrependeu de conhecer. Porque não se aprende nada. Desaprende-se. E quem gosta de andar às arrecuas com o conhecimento?
Dirão: às vezes, também, precisamos de vir do nada para alguma coisa fermentar em forma de conhecimento. Temos de esbarrar nas frutas apodrecidas que medram na sua fétida condição. Não gostamos, porque o faro apurado não tolera a insalubridade dos corpos. Mas aprendemos sempre alguma coisa. Que mais não seja, a não repetir o erro, a evitar as labaredas que consomem um módico de paciência e não enfeitam conhecimento que valha.
Às vezes, ainda, somos vítimas involuntárias do conhecimento que preferíamos não ter. Sitia-nos, esse maldito conhecimento, esse alfobre de sombras de que, bem espremidas as palavras, não se solta coisa que tenha préstimo. De outras vezes é a voragem do desconhecido que nos leva a transitar por linhas esquálidas onde há de fruir um arrependimento em flor. É quando os arrependimentos não são inúteis, em contramão da convencionada sabedoria que ornamenta os lugares-comuns. Diga-se: sempre se aprende uma coisa de afortunada importância: é ladeira que não volta a ser visitada, tamanha a lição aprendida. Só que às vezes repetimos o erro. Quem nos pode inculpar? Quando estamos diante de uma vidraça opaca e somos seduzidos pela oportunidade de tirar as medidas ao desconhecimento, o lado revelado da penumbra tanto pode ser doce como de uma acidez que repugna. Só sabemos quando viramos a vidraça do avesso.
Dias há em que saldamos a jornada pela trova do desconhecer. É como se uma irreprimível pulsão viesse de dentro para pegar numa gigantesca borracha e apagar os tracejados a lápis que vieram afear o dia. É a essência do desconhecer. Como ato que faz desnascer o conhecimento que já não vai para a moldura da memória.

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