Pond, “Sitting
Up on Our Crane”, in https://www.youtube.com/watch?v=q1vpFmRtb3c
Às vezes, apetece
desconhecer. Só que aqui o verbo não é trivial: desconhecer, como quem desfaz
conhecimento que se arrependeu de conhecer. Porque não se aprende nada.
Desaprende-se. E quem gosta de andar às arrecuas com o conhecimento?
Dirão: às vezes, também,
precisamos de vir do nada para alguma coisa fermentar em forma de conhecimento.
Temos de esbarrar nas frutas apodrecidas que medram na sua fétida condição. Não
gostamos, porque o faro apurado não tolera a insalubridade dos corpos. Mas
aprendemos sempre alguma coisa. Que mais não seja, a não repetir o erro, a
evitar as labaredas que consomem um módico de paciência e não enfeitam
conhecimento que valha.
Às vezes, ainda, somos
vítimas involuntárias do conhecimento que preferíamos não ter. Sitia-nos, esse
maldito conhecimento, esse alfobre de sombras de que, bem espremidas as
palavras, não se solta coisa que tenha préstimo. De outras vezes é a voragem do
desconhecido que nos leva a transitar por linhas esquálidas onde há de fruir um
arrependimento em flor. É quando os arrependimentos não são inúteis, em
contramão da convencionada sabedoria que ornamenta os lugares-comuns. Diga-se:
sempre se aprende uma coisa de afortunada importância: é ladeira que não volta
a ser visitada, tamanha a lição aprendida. Só que às vezes repetimos o erro.
Quem nos pode inculpar? Quando estamos diante de uma vidraça opaca e somos
seduzidos pela oportunidade de tirar as medidas ao desconhecimento, o lado
revelado da penumbra tanto pode ser doce como de uma acidez que repugna. Só
sabemos quando viramos a vidraça do avesso.
Dias há em que saldamos a
jornada pela trova do desconhecer. É como se uma irreprimível pulsão viesse de
dentro para pegar numa gigantesca borracha e apagar os tracejados a lápis que vieram
afear o dia. É a essência do desconhecer. Como ato que faz desnascer o conhecimento
que já não vai para a moldura da memória.
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