Belly, “Shiny One”, in https://www.youtube.com/watch?v=prF1CdzjTZ4
De que pertença me faço, se não consigo achar bússolas que destapem as teias que cobrem o chão?
Qual é a espessura da minha pele, se ela não se sente amordaçada pelos quintais vulcânicos da orla lacustre?
De onde são as fábricas onde se entretece o sangue que sorve as paredes das veias?
Que argumentos se esgrimem contra os endemoninhados, os ascetas das frases feitas, os zeladores de garantias violáveis com qualquer chave, as pitonisas que se alimentam da intriga, os escapistas sem rumo?
De que são feitas as fibras onde meu corpo se congemina?
Onde está o suor desembaraçado pelas canseiras que se ajuramentam na quietude da existência?
Que partidas preparo à espera dos vorazes mitómanos?
Que candeeiros são estes empunhados na mão direita, que luz deles irradia se a centelha parece desbotar à mercê dos ventos desassisados que se levantaram de poente?
Que viagem tenho escondida na estrutural ossatura, que viagem resguardo para peregrinação que congrace um infinito lugar, este?
Quais são as empreitadas com direito a cartografia, quais são as que me convencem a preterir a hedonista distração do mundo?
Quantas vezes subi ao promontório só para me saber capaz da proeza?
De que cor são as palavras que desenho no dorso do tempo, em sucessivas ondas que engolem o repentismo do mar?
Que trago guardado no peito, sem coragem para desvelar – ou apenas por temer que não anima interesse a sua revelação?
De onde vem o infatigável tenor que murmura versos sem sentido tendo uma música melancólica como pano de fundo?
De que me contagio quando aprendo a nadar no bulício dos outros?
De que me contagio quando sou contaminado pelo pesar dos outros?
Quantas noites deitei fora na intempérie da desmemória, quantas foram borda fora no sargaço da inutilidade, quantas mais quero reter nas mãos sob o caiado manto da lua cheia?
De que serve a combustão da esperança, se os vultos continuam a tomar de assalto o pútrido tabuleiro onde gemem de medo os que serão vítimas de um irremediável xeque-mate?
Para onde dirijo as ideias, se me parecem todas contrafação?
Quando aprendo que a verdade não existe, como não existem os proficientes, metódicos ensaios imunes à desrazão?
Que interrogações outras se alinhavam no estertor do entardecer, enquanto o olhar se distrai com o desmaiar da luz diurna a meias com os estroinas que alvoroçam o sossego que havia?
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