19.6.18

Esta casa grande


Jack White, “Connected by Love”, in https://www.youtube.com/watch?v=WyWqEFeKX2E
Esta casa que é grande, monumento centrípeto sem lugar no mapa – porque é maior do que todos os mapas que a possam representar. Esta casa grande, onde se autorizam as quimeras, onde as mãos olham, desembaciadas, como é fria a nortada. Esta casa grande, onde são beijos os versos mais nobres em rima com as almas inteiras. Esta casa, aventura embainhada, cabo estético dos corpos que se entrelaçam num feixe de cores que extravasa o arco-íris. Esta casa é grande, sumptuosa, com janelas por onde entra a maresia, esse ouro que vale mais do que o ouro outro. Da casa sabemos ser grande sua medida: ajardinamos os seus deslimites com sementes esculpidas pelas mãos, contracenamos com o mar diapasão que passou a ser ingrediente dos nossos corpos, nós, os sublimes coreógrafos do que interessa. A casa grande oferece-se na bifurcação dos ventos, separando meticulosamente os que têm serventia dos que não merecem guarida. A casa grande, com janelas a preceito, portadas magnânimas vertidas sobre o sol que é bálsamo, transbordando o mar de que é seu dique. Esta casa que é grande, mostruário das almas habitantes. Postulado de palavras opíparas, o lugar das danças açambarcadas, servidora dos seus tutores. E estes, prestando vassalagem à casa grande, tornam-se da mesma estatura da casa que os alberga. A casa é grande, por cima da superfície que tomou conta. É grande, a casa, sem ter nada a opor ao nanismo das imediações (das vastas imediações). A casa é grande, porque não lhe interessa o cotejo com as outras, as que sufragam o ufano superior valor superficial e as que se terçam na humilde exiguidade. A casa que é grande dorme e acorda e vive e volta a adormecer com o inventário próprio, no sal desabotoado das paredes, na imensa claridade que a invade desde as janelas, no admirável sonho que se transfigurou em matéria tangível por todos os poros da casa que libertam suor e amor e palavras e lágrimas e se contagiam numa irrefreável vontade de abraçar os corpos ao tempo vindouro. A casa é grande e imorredoira, como quem nela tem seu sufrágio. 

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