Um dia, quando a manhã invadiu a tarde e tu olhavas fixamente o meu rosto à procura de um leve sorriso, eta capaz de jurar que o vento de Leste desarrumava os verbos. Era como se as palavras se tivessem sublevado e as pessoas tropeçavam no racionamento das ideias. Como se, de repente, fôssemos matéria vazia por dentro, à espera de uma pulsão criativa.
Não se preparassem as juras acusadas pela vontade extravagante. Alguém confundiu as juras com juros (provavelmente, um negociador da bolsa de valores). Antes que a desordem se fizesse uma febril matéria ascensional, uns rostos anónimos, propositadamente desfigurados para as imagens, procederam à descontaminação. Que ficasse claro - reiteram os homens em fato-macaco – é de juras que se fala.
Mesmo assim, houve quem protestasse. Não tomaram partido dos corretores da bolsa de valores; participaram a sua dissidência contra o imperativo categórico das juras. Houve quem assinasse declaração de voto em voz tonitruante: “entre juras e juros, alguém que se atire da ponte para não contar a melancolia.”
Ao anoitecer, diríamos que o dilema estava em vias de resolução. O dia foi passado por uma contumaz dor de cabeça, mas valeu a pena. Os corredores da perplexidade foram esvaziados. As tintas que se jogavam ora a favor das juras irá a favor dos juros secaram e, cristalizadas, já só serviam como curiosidades arqueológicas. A anestesia dos sentidos era descabida. Se se mantivesse, um ultraje ao povoado onde existiam as vontades que não se deixavam hipotecar por disfarces.
O dilema estava em vias de resolução. As juras tinham deposto os juros. Era um passo em frente para entronizar os sentidos sem dar caução à materialidade das coisas. Só faltava a última estocada. Era preciso despojar as juras, para devolver às pessoas a liberdade que fora colonizada pelo fantasma das juras – essa indelével marca registada que dissolve o tempo presente à tirania do futuro. O dilema desfez-se na posse na poesia.
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