Não se diga da avença que não é limitada. As encomendas não pertencem ao espaduado destino, que ninguém pode garantir o dia seguinte.
Os precatados desalinhavam os verbos contra a ambição. Consideram que ela não tem medida. Pode ser um caudal que transborda e as terras alagadiças perdem fertilidade. Discutem-se as hipóteses. Uns querem barragens. Outros protestam: “a natureza tem de seguir o seu curso” – a mão do homem não deve fabricar os seus deslimites. São mais numerosos os que querem jogar à defesa. Escudam-se nos preceitos da diplomacia. De que serve a ambição dos tresloucados, se amanhã pode não haver chão para os seus pés? De que serve o ciciar dos loucos, se não é deles o palco do mundo?
Os que estão em maioria exigem travões a fundo. Não serão eles a dar o primeiro passo. Ficam à espera que a espera se consuma. Preferem reagir e deixar a ação para os outros. Ficam à espera: em vez das vozes escanifradas das mulheres da mesa do lado, os profetas da precaução desfazem-se em retórica que disfarça o medo. Ninguém sabe dizer se a cautela se confunde com o medo.
O dia rarefeito não os intimida. Não precisam de adiamentos para esperarem pela mediania do tempo. Não se ensinam, as decisões; decidem-se. O diligente procurador da maresia escusa de os procurar. Eles não querem saber dos odores que os deixem extasiados. Receiam que seja uma anestesia dos sentidos, para depois ficarem expostos aos algozes que saírem na penumbra. Racionalizam – “racionalizam”, que verbo tão frio e destituído de magma.
Se lhes dissessem que amanhã já não havia amanhã, talvez soubessem ser párias do que são e atiravam-se literalmente de cabeça, nem que fosse o abismo o que os esperasse depois. Mas continuam a jogar à defesa enquanto souberem que o dia seguinte terá lugar em devido tempo.
Jogam à defesa e esquecem-se da maresia. Não deixam vítimas atrás de si. Preferem ser eles as suas próprias vítimas.
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