3.7.12

Parto difícil


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Arrancado às pedras. Às pedras que escaldam, tisnadas pelas horas contínuas de sol soberano. Vagueando nos corredores do pensamento, onde as hesitações eram salvo conduto da inércia. Lutavas contra ti mesmo. A artilharia toda apontada contra a espontaneidade que julgavas sufocar por entre o convencimento de que eras o contrário do teu eu. Das entranhas, onde a lava que era espontaneidade era arrefecida pelos anticorpos que bolçavam o que em ti era antítese.
Era uma teimosia. Fermentada por arrependimentos que, soubeste entretanto, são pueris. Podiam os olhos perder-se num horizonte onde julgavas residir a maresia que enfeitiçava os sentidos. Mas eram – como dizê-lo? – sonhos, digressões estéreis. Uma fuga para dentro, por onde o pensamento se arruinava em ondas de um mar alteroso que, todavia, se esboroava em fraca espuma mal beijava os seixos que bordejavam o limite do areal. A lava incandescente, que fermentava nas veias incensadas, não podia sucumbir à indolência forjada.
Num dia, o vulcão soltou os seus freios. A lava jorrou, abundante. Era um consolo vê-la a descer as encostas, contorcendo-se vagarosamente, borbulhando bolas de fogo que devolviam à atmosfera a matéria outrora reprimida. Diriam os desatentos: mas um vulcão não é entidade assassina, devastando a paisagem por onde a lava escorrega no seu vagar? Nem tudo pertence à contumácia das imagens retratadas em palavras que são a devoção do realismo. A letargia que já não era, essa é que era suicida. Um suicídio de carácter.
Quando o vulcão vomitou pela cratera, transbordando bolas de lava incandescente, foi como se o início das coisas tivesse epílogo naquele dia. Sabias que a lava incandescente obrigava a redesenhar tudo desde uma folha em branco. O tempo pretérito só teria uma serventia: desiludir os arrependimentos, que esses são bastardos; o tempo pretérito seria o cabimento das lições aprendidas nesse tempo. Doravante, o dia seria vivido sem o dia, mas por dentro dele. Ocupando-o pelas entranhas. 

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