16.7.12

O “conhecimento permanente”


In http://queriasaber.com/wp-content/uploads/2010/11/Livros-empilhados.jpg
Fico esmagado pelo conhecimento que se desprende em doses cavalares de personagens da mesma igualha. É de equídeos que se fala (sem desprimor para os ditos), quando pela frente desfilam apedeutas que têm de si uma imagem muito elevada e dão o seu melhor (que é pouco) para maquilhar a incultura. É nessa altura que, na canseira de parecerem o que não são, puxam lustro à artilharia sábia em forma de atentando à língua falada e/ou escrita, ou assassinando a ciência de que se envaidecem serem cultores, ou através de uma mistura bizarra de palavras que desagua em conceitos ininteligíveis.
Há dias esbarrei num exemplo: azamboado por causa da muito mal explicada licenciatura por equivalências custeadas em saberes vários recolhidos de abundante e meritória experiência profissional, o primeiro-ministro Relvas (não é engano) usou da palavra em sua defesa. Anunciou que todo o percurso académico tinha o respaldo da lei e que toda a sua vida foi ditada pela “procura do conhecimento permanente”.
(Não é lapso: o Relvas é o primeiro-ministro. Ou como se entende que o homem que aparece, mas só para inglês ver, como primeiro-ministro ainda não o demitiu se o Relvas, o todo-poderoso, faz tanto dano ao governo?)
A “procura do conhecimento permanente” é uma pérola de vivacidade conceptual. Admito que os que transitam na “ciência” da criatividade assinem por baixo do anúncio autocontemplativo do primeiro-ministro Relvas. Um dos licenciados a sério que o pajeiam devia ter preparado o discurso ao milímetro, como era arte zelosamente praticada pelos antecessores (a bem dizer, a única coisa em que eram profissionais). Neste governo, a comunicação deve ser pasta de amadores, tantos os tiros no pé dardejados dia sim dia sim.
O primeiro-ministro Relvas devia ter o discurso ensaiado ao milímetro. Quem o fez, ou estava distraído ou é da mesma estirpe intelectual do todo-poderoso. Tenho cá uma leve desconfiança que queria, o primeiro-ministro Relvas, dizer “a procura permanente do conhecimento” (em vez de “procura do conhecimento permanente”). Pois o conhecimento não leva adjetivo. Tudo normal quando os néscios têm a ribalta. Dando de barato que o conhecimento pode sofrer interrupções (que os todo-poderosos não podem ser contrariados, faça-se-lhes a vontade), o percurso do primeiro-ministro Relvas é todo um programa de intenções reveladas. Pois se demorou tanto tempo a chegar ao “conhecimento permanente” (e foi como se sabe), é sinal de que andou tempo a mais entretido com o conhecimento interrompido.

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