In http://queriasaber.com/wp-content/uploads/2010/11/Livros-empilhados.jpg
Fico esmagado pelo conhecimento
que se desprende em doses cavalares de personagens da mesma igualha. É de
equídeos que se fala (sem desprimor para os ditos), quando pela frente desfilam
apedeutas que têm de si uma imagem muito elevada e dão o seu melhor (que é
pouco) para maquilhar a incultura. É nessa altura que, na canseira de parecerem
o que não são, puxam lustro à artilharia sábia em forma de atentando à língua
falada e/ou escrita, ou assassinando a ciência de que se envaidecem serem cultores,
ou através de uma mistura bizarra de palavras que desagua em conceitos
ininteligíveis.
Há dias esbarrei num exemplo: azamboado
por causa da muito mal explicada licenciatura por equivalências custeadas em saberes
vários recolhidos de abundante e meritória experiência profissional, o
primeiro-ministro Relvas (não é engano) usou da palavra em sua defesa. Anunciou
que todo o percurso académico tinha o respaldo da lei e que toda a sua vida foi
ditada pela “procura do conhecimento permanente”.
(Não é lapso: o Relvas é o
primeiro-ministro. Ou como se entende que o homem que aparece, mas só para
inglês ver, como primeiro-ministro ainda não o demitiu se o Relvas, o
todo-poderoso, faz tanto dano ao governo?)
A “procura do conhecimento
permanente” é uma pérola de vivacidade conceptual. Admito que os que transitam
na “ciência” da criatividade assinem por baixo do anúncio autocontemplativo do
primeiro-ministro Relvas. Um dos licenciados a sério que o pajeiam devia ter
preparado o discurso ao milímetro, como era arte zelosamente praticada pelos
antecessores (a bem dizer, a única coisa em que eram profissionais). Neste
governo, a comunicação deve ser pasta de amadores, tantos os tiros no pé dardejados
dia sim dia sim.
O primeiro-ministro Relvas devia
ter o discurso ensaiado ao milímetro. Quem o fez, ou estava distraído ou é da
mesma estirpe intelectual do todo-poderoso. Tenho cá uma leve desconfiança que
queria, o primeiro-ministro Relvas, dizer “a procura permanente do
conhecimento” (em vez de “procura do conhecimento permanente”). Pois o
conhecimento não leva adjetivo. Tudo normal quando os néscios têm a ribalta.
Dando de barato que o conhecimento pode sofrer interrupções (que os todo-poderosos
não podem ser contrariados, faça-se-lhes a vontade), o percurso do
primeiro-ministro Relvas é todo um programa de intenções reveladas. Pois se
demorou tanto tempo a chegar ao “conhecimento permanente” (e foi como se sabe),
é sinal de que andou tempo a mais entretido com o conhecimento interrompido.
Sem comentários:
Enviar um comentário