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Não adianta análise sociológica
amadora. Não adianta carpir a idiossincrasia de um povo. Nem adiantam fermentos
em utopias que não passam disso mesmo – utopias. Mas há algumas embirrações que
só de o serem personificam desprazer. Confesso uma: o complexo de farda. Um
atavismo herdado dos tempos grotescos da ditadura. Quando ando em transportes
públicos e as conversas dos passageiros vizinhos entram pelo ouvido sem que o possa
evitar, são recorrentes as lamentações que evocam a ordem dos tempos da velha
senhora. Farto-me de ouvir graciosidades como “no tempo de Salazar não havia
estas poucas vergonhas”.
(Alusão à insegurança que, mesmo
assim, coloca esta santa terrinha longe dos patamares de criminalidade dos
vizinhos europeus – até nisso estamos atrasados; ou, talvez, sinal de uma
inesperada vantagem civilizacional destes, que somos nós, frequentemente conotados
com os derradeiros bárbaros da Europa).
Muita gente gosta de sentir a
mão pesada do poder. Por causa da segurança, esse valor tão sagrado.
Resignam-se ao braço duro – por vezes totalitário – do poder, se sentirem que é
a fatura apresentada pela garantia de segurança. Não admira que muitos destes
que continuam enamorados de um poder público forte transportem consigo um
complexo de farda. É quando confundem poder com autoridade e depressa fazem um
plano inclinado onde a autoridade escorrega para o autoritarismo. É a mais pura
exibição de autoridade, com a sobranceria de quem se encontra por dentro de uma
farda.
(As fardas tanto podem ser
vestuário que entroniza o poder, como fardas simbólicas, o exercício de uma
autoridade que, no entender enviesado dos seus titulares, confere direito a destratar
os destinatários do poder.)
Os porteiros (nas repartições
públicas, nos hospitais, à porta de bares e discotecas, nos aeroportos – e os
demais exemplos que se possam arregimentar) são um paradigma. Mal educados, mal
encarados, destilando pesporrência que quadra com o uso da farda e com a
autorização, dada por alguém que manda, para serem eles a franquearem a entrada
aos sítios de que são cães de guarda. Altivos, antipáticos, assertivos, puxando
lustro ao arbítrio que é a ostentação do poder. São pequenos tiranetes sem
trono.
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