20.7.12

Non stop


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A vertigem das luzes disformes enquanto os candeeiros de rua passam pelo carro à velocidade da luz. As veredas de onde saltam vultos que furtam o sossego. As ruas, ora desertas, ora enxameadas pelo viver noturno. Apinhamo-nos como os desassossegados sem sono à noite. Somos nós mesmos multidão, como se em cada um de nós houvesse uma transfiguração em múltiplos. As pernas descompõem-se, arbitradas pelo a mais que já bebemos. Dizemos banalidades, insanidades e coisas que irradiam uma lucidez imprevista – até nós ficamos perplexos com as fintas ao desatino. A noite avança. Arrefece, presságio do orvalho deposto pela madrugada que não tarda. Mas não temos frio. Avançamos com a noite, pela noite fora. Somos seus arquitetos, convencidos que ela se não embacia porque a consagrámos à glória. Deixamos chão para trás, o chão que espera pelo asseio madrugador dos lixeiros, o chão onde ficam os vestígios da folia noturna. Os pés não se cansam na digressão pelos lugares que a noite entronizara. A visão entaramelada, com as sombras metendo-se na nitidez do olhar, adulterava os sentidos. A certa altura, nem demos conta que a alvorada se intrometera na luz noturna, esta decaindo na claridade. Um pouco de desorientação, que o amanhecer deixara a penumbra adiada para outra noite que viesse a seguir. E nem assim estávamos exangues. Poucos lugares eram os lugares secretos onde ainda habitavam os acólitos da folia noturna. A bem dizer, vinha a despropósito falar de “folia noturna”, pois o sol embolsara uma claridade que feria os olhos desprotegidos. Mas essa era outra divagação a meio do nada, inócua: que interessava se nos autoproclamávamos “foliões noturnos” se seguíamos pela manhã fora? O cansaço demorava-se. Era como se fôssemos heróis de nós mesmos, tão admirados com a proeza. Não demos conta quando aterrou, o cansaço. Dormíamos ao relento, entre a gente muito apressada que, indiferente, se cruzava com os bancos do jardim onde depuséramos os ossos. Mas mesmo no sono, por dentro dos sonhos que vieram, o folguedo noturno não tinha um fim.

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