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O modismo do empratamento todo
pimpão, desenhando autênticas obras de arte com os ingredientes, uns molhos a
preceito e outros adereços a comporem o ramalhete, é uma trapaça. Os olhos vão
no engodo. Como se os chefes de cozinha que se dedicam à minúcia do vistoso
empratamento quisessem adulterar o paladar através da anestesia do olhar. Ou
talvez esteja tudo certo: a fazer fé nos sacerdotes que exortam a raça humana a
desprender-se das coisas materiais e a entregar-se aos prazeres dúcteis da
espiritualidade, o empratamento vistoso está para a espiritualidade como a
gastronomia-empanturra-estômagos está para os vícios materiais. É preciso ter travão
na boca, ou caímos nas doenças, que podem ser letais, alimentadas pelo excesso
de alimento ou pelo descuido com o que nos alimentamos.
Não é só aqui que os sentidos
andam às avessas. Em tantas outras coisas da vida (umas boas, outras
rotineiras), os olhos são gulosas entidades que levam outros sentidos (depende
do assunto) a sentirem-se atraiçoados quando são convocados a exercitarem o seu
préstimo. O olhar é um filtro danoso. É uma credencial de expectativas que,
tantas vezes, resultam num ato fracassado. Os olhos assim, fautores de enganos
nos demais sentidos, são mordazes criadores de esperanças.
Dir-se-á que o problema não é
dos olhos. Eles retratam o que é dado a ver. O dedo deve ser apontado aos
fariseus que engalanam as coisas vistosas que seduzem os olhos. Quando assim é,
desconfia-se: quem tanto ornamenta o exterior para atrair os olhos que se
embevecem com todo o encantamento, é porque sabe (mas não confessa) que o
produto é de fraco jaez.
Regresso ao empratamento
fanfarrão que faz moda na culinária. Os olhos vão no feitiço. É um sentido que
agradece. Mas falta o resto. Um certo sal a temperar os sabores. Os olhos,
esses, já deviam ter aprendido a não fabricar embustes para os outros sentidos.
Não é obras de arte que o paladar tenciona degustar.
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