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Bajulavas a perdição. Parecia um
sinal perene. Dos pés saiam passos trocados. Sobressaltos que terminavam nas
armadilhas larapiadas a falsos anjos. Era como se entrasses no redil onde
estavam as reses que seriam má fortuna. Desconfiavas da má fortuna. E mesmo
assim teimavas em pôr pé na rédea curta da desfortuna. Uma atração
gravitacional pelo abismo. Quanto mais sentias o corpo sorvido pelo vórtice das
águas pesadas, mais ele se entregava aos caminhos errantes de onde não havia
saída fecunda.
Um dia houve em que das
alcáçovas soou alarme. Um grito a advertir o precipício por diante. Já só
faltava um par de passos para o precipício tão fundo onde nem o fundo se
entrevia. Sentaras-te mesmo no limiar, onde pedras pequenas se arqueavam no
poço sem fundo, levadas pelo vento fresco que era imperador no sopé da montanha
rasgada pelo precipício. Contemplavas o firmamento, a luz do sol que beijava o
seu ocaso, as nuvens esparsas desfilando no céu. Passaram muitas interrogações
à tua frente. Quase todas continuavam sem resposta. Admitiste, enfim, que eram
interrogações vãs: não foram feitas para se casarem com respostas.
Entre as perguntas ávidas de
solução, apertaste o filtro. Só uma, uma apenas, teria serventia. Era a mais
simples de todas (e, todavia, ainda nas vésperas, era a que tinha mais pontas
soltas, a pergunta de toda uma existência). Seria do vento que decantava as
asperezas que se deitavam na pele, ou do singular ocaso em time frame, ou da apoquentação do precipício mesmo na embocadura
dos pés sentados. De repente, da pergunta que teimava fugidia resposta levitou uma
lucidez. Como se os olhos estivessem embotados por um véu persistente, um véu
que julgavas irremediável, entretanto desprendendo-se dos olhos.
Os atos mais singelos, os que
parecem os mais complexos de todos, estão embebidos na sua simplicidade. Num
ápice, a pergunta mais difícil encontrou-se no regaço da resposta mais simples.
O resto deixava de ter importância.
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