9.7.12

Onde é a redenção


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Bajulavas a perdição. Parecia um sinal perene. Dos pés saiam passos trocados. Sobressaltos que terminavam nas armadilhas larapiadas a falsos anjos. Era como se entrasses no redil onde estavam as reses que seriam má fortuna. Desconfiavas da má fortuna. E mesmo assim teimavas em pôr pé na rédea curta da desfortuna. Uma atração gravitacional pelo abismo. Quanto mais sentias o corpo sorvido pelo vórtice das águas pesadas, mais ele se entregava aos caminhos errantes de onde não havia saída fecunda.
Um dia houve em que das alcáçovas soou alarme. Um grito a advertir o precipício por diante. Já só faltava um par de passos para o precipício tão fundo onde nem o fundo se entrevia. Sentaras-te mesmo no limiar, onde pedras pequenas se arqueavam no poço sem fundo, levadas pelo vento fresco que era imperador no sopé da montanha rasgada pelo precipício. Contemplavas o firmamento, a luz do sol que beijava o seu ocaso, as nuvens esparsas desfilando no céu. Passaram muitas interrogações à tua frente. Quase todas continuavam sem resposta. Admitiste, enfim, que eram interrogações vãs: não foram feitas para se casarem com respostas.
Entre as perguntas ávidas de solução, apertaste o filtro. Só uma, uma apenas, teria serventia. Era a mais simples de todas (e, todavia, ainda nas vésperas, era a que tinha mais pontas soltas, a pergunta de toda uma existência). Seria do vento que decantava as asperezas que se deitavam na pele, ou do singular ocaso em time frame, ou da apoquentação do precipício mesmo na embocadura dos pés sentados. De repente, da pergunta que teimava fugidia resposta levitou uma lucidez. Como se os olhos estivessem embotados por um véu persistente, um véu que julgavas irremediável, entretanto desprendendo-se dos olhos.  
Os atos mais singelos, os que parecem os mais complexos de todos, estão embebidos na sua simplicidade. Num ápice, a pergunta mais difícil encontrou-se no regaço da resposta mais simples. O resto deixava de ter importância.

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