27.7.12

Arquitetos do tempo

In https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhYaADGHh8PLelnicq0hQlp4Bo5MJfdbCR1Jo80GMk5620syOAfRIAfWBTinxh2wybk85dXEdWkqjqWu4DBxKy3j__vUIV5RYXt9Pv0QqE8Vq2JMqzBuqMEeC5SK_h1-0yVBczd/s1600/tempo-de-deus.jpg

Ninguém se preocupa em viver bem quando, afinal, viver bem está ao alcance de todos, ao passo que durar muito não está ao de ninguém”, Séneca, in Cartas a Lucílio.
De que servem as poupanças quando se açambarcam nos cofres do tempo? Julgamos que é a delongada existência que reverte a favor da grandeza. Soçobramos, se assim ajuizarmos, perante os mastins que só medem porções. A sua serventia é inofensiva se todos esses anos de duração, uma vez descosidos, deitarem à mostra um vazio.
Deitamos tempo fora com as munições do tempo que aí vem. Deitamo-nos com o tempo tirano, saltando pé ante pé por dias sem memória, só porque teimámos que depois de amanhã é que terminam as inquietações. E nem damos conta que as inquietações são uma epígrafe necessária. Caução das recompensas que sobram de marés contrárias. Se não fosse pelo travo amargo das inquietações, as recompensas teriam sabor apagado – deixariam de ser recompensas. Às duas por três, olhamos, inertes, para os relógios espalhados por todo o lado. E os ponteiros na marcha irremediável. Oxalá os amanhãs que se prometem no meio de nevoeiros de quimeras não sejam traição maior ao tempo.
O desgaste do tempo sem lembrança é suicida. Enquanto se varrem os vestígios de outrora desgasta-se o crédito do porvir. Só há um remédio. Arremate-se o tempo disponível. E o que é o tempo disponível? É o que está ao alcance dos dedos, o tempo que podemos agarrar. Agarremo-lo com a força toda das mãos. Seremos arquitetos do tempo que irrompe, encantador, a cada alvorada. Tomemos entre mãos os utensílios que esculpem o tempo à nossa volta. Deitemos a folha branca no estirador. E cinzelemos o tempo à nossa feição, sem cuidar das consumições da exiguidade dos instantes.
O tempo só é exíguo se o deixarmos escapar entre os dedos. Saibamos ser arquitetos do tempo que nos é consagrado para termos mão no fadário. Nessa altura, seremos divindades em nós mesmos.

1 comentário:

Edite Esteves disse...

Apenas para deixar os meus blogues:

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Mto grata!