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(Outro ensaio para um conto
infantil)
Um certo dia, as crianças
chegaram tristes à escola. Na véspera, muitas retardaram o sono mal lhes
disseram que as estrelas tinham desaparecido do céu. E não era porque as nuvens
tivessem tomado conta do céu, que nessas noites os pais asseguravam que as
estrelas continuavam no sítio, só que escondidas. Uns malvados quaisquer tinham
apalavrado as estrelas. Não se sabe como fora possível: escutavam o ar pesaroso
dos adultos, que trocavam palavras inquietadas por causa da desordem cósmica; e
havia discussões na televisão com a participação de cientistas com ar de génio
maluco, dizendo palavras que não dava para entender.
Nada disso interessava às
crianças. As coisas dos adultos ficavam lá com eles e com o seu palavreado
ininteligível (palavra que depressa aprenderam quando ouviram os progenitores a
acusarem os cientistas de terem discurso infetado por esta doença). As crianças
queriam as estrelas de volta. Algumas vieram para a televisão, chorosas,
suplicando a devolução das estrelas. Sem elas não conseguiam dormir. Elas eram
anjos distantes que vigiavam o seu sono sereno. Mas as crianças perceberam, das
palavras matraqueadas pelos adultos, que as sombras tingiam o horizonte: não se
sabia quem tinha sequestrado as estrelas. Mais difícil ficava resgatá-las. Para
piorar, as crianças foram desenganadas à bruta pelos impacientes pais. Quando
sugeriram a convocação dos super-heróis, os pais destruíram as ilusões com um
punhado de secas palavras: “não há
super-heróis no mundo real”.
Mas tudo se compõe e os maus
acabam por dar com os ossos na cadeia (se antes não forem liquidados pelos bons
de serviço). Com os préstimos dos serviços secretos dos países mais poderosos,
descobriu-se o autor da maldade cósmica. As estrelas continuavam intactas no
lugar onde pertencem. O malvado, um cientista rancoroso consumido por uma
doença terminal, quis vingança do mundo. Inventou um filtro que ocultava as
estrelas, o filtro intercalando-se entre o planeta e o céu.
Os poderosos exércitos
coligaram-se. Foi uma operação relâmpago. Do cientista não sobraram vestígios,
tamanha a maldade que fizera. Na noite seguinte, as estrelas estavam de
regresso ao seu lugar. E as crianças aprenderam uma lição muito humana: os que
praticam grandes maldades são banidos da existência.
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