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Os pés encharcavam-se de
hesitações. Era uma consumição que mordia as entranhas. Todas as palavras
pareciam desastradas. Todos os atos, uma odisseia pelos descaminhos de onde
vinha a impressão de ter feito o que não devia. Os olhos entaramelados ciciavam
medos que tomavam conta de tudo, desde o âmago do ser a tudo o que fosse seu
redor. E quando, assoberbado, se fazia senhor do palco, era um redil que
depressa o aprisionava. À menor dúvida que estalasse na boca como se fosse
granada descavilhada, desfazia-se em nada o ardiloso manto de segurança.
Pouco adiantaram os peritos na
decifração da mente. De várias levas e saberes, prometiam certeira cura para a
enfermidade social. Depois do divã, e depois de testes maçadores que teriam o
condão de deslindar o enigma interior, não se notavam melhoras. Tinha um amigo,
talvez cruel, ou apenas frontal, que dizia ser condição patológica. Adivinhava,
esse amigo, uma única fórmula: assumir de frente a condição patológica.
Aprender a conviver com ela. Pois não havia tanta gente que conseguia coabitar
com fraquezas, capaz de as transfigurar em forças? De que servia esconder-se de
si mesmo? Ao menos que confiasse nos que lhe eram tão próximos que só lhe
queriam o máximo bem. Naqueles que não faziam o favor de fazer de conta apenas
para tornar a comiseração uma festa sedosa.
Demorou a saber viver com a
pessoa que era. Foram anos, anos de mais, encerrado no espartilho do seu próprio
desprazer. Outra amiga repetia que só quando se aceitasse no que era teria chão
para caminhar sem tergiversações. Uma palavra era essa palavra, sem rodeios nem
labirínticos raciocínios que desaguavam em ruas sem saída. Um ato era o seu
desassombro – e a responsabilidade de o pegar de cernelha, mais as
consequências. Os olhos deixariam de ser medrosos espelhos de um interior
embaciado. As fragilidades, o bálsamo para o seu contrário.
Todo este tempo depois só se arrependia da fortuna empenhada em
peritos de saberes diversos. Os amigos – transitando no seu conhecimento perfeito
– eram penhores dos segredos. Por fim, todo esse tempo depois, adormecia sem o
fantasma das insónias.
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