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De dois em dois anos, apetece-me
futebol. Nos anos de certames que são a versão moderna das guerras entre países
– não que os países vão à guerra com artilharia pesada; vão à guerra as
sensibilidades nacionalistas, por interposta pessoa dos atletas que
(convencionou-se) representam a pátria que os viu parir. Ora, para quem lança
âncora a uma utopia em que os países se desafazem em nada, o que explica este
paradoxo? A crise biliar do Pacheco Pereira que, de dois em dois anos, haja
campeonato mundial ou europeu, arranja uma crónica para assoar o ranho no
futebol e no que ele representa.
Este ano aconteceu no sábado, em
prosa no Público. O Pacheco atirou-se
aos “intelectuais do futebol” (categoria que, à exceção de uns eruditos que
mostram uma cultura acima da média, julgava ser matéria inexistente). O Pacheco
autoproclama-se líder dos intelectuais que abominam o futebol e o estado
anestésico que toma de assalto a populaça. Já que estamos numa de presunção e
água benta, aqui vai o meu contributo: eu, intelectual dos quarto costados (que
a presunção me não seja negada) não filiado nos sectores que endeusam o
futebol, serei, na dicotomia simplória do Pacheco, um intelectual seu aliado.
Não é o caso, sem que isso me coloque de braço dado com os que elevam o basismo
do futebol à condição de ciência complexa e literata. Ao ler a prosa rancorosa
do Pacheco, apetece-me ir para uma tasca, estacionar à frente da televisão a ver
um jogo qualquer, bebendo minis e comendo couratos, arrotando (literalmente; e
palpites de treinador de bancada), urrando bestialidades contra o árbitro,
insultando o adversário como se inimigo fosse, exultando ruidosamente com os golos
da minha equipa, ameaçando bravata com os compinchas de tasca que tiverem o
topete de discordar da minha fina análise.
Leio o Pacheco a salivar contra
o futebol e não lhe perdoo por me fazer quase adepto fanático da coisa
(descontado o óbvio exagero). O Pacheco deve ter traumas de infância: ele seria
o menino menos dotado para os pontapés na bola. Ostracizado pelos demais
meninos, o Pacheco entristeceu. Desenvolveu um rancor pelos primários que fazem
do futebol o epicentro de tudo. Só não sei se tamanha azia não é primária e
indecorosa para um intelectual desta linhagem.
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