4.7.12

O Pacheco é o patinho feio

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De dois em dois anos, apetece-me futebol. Nos anos de certames que são a versão moderna das guerras entre países – não que os países vão à guerra com artilharia pesada; vão à guerra as sensibilidades nacionalistas, por interposta pessoa dos atletas que (convencionou-se) representam a pátria que os viu parir. Ora, para quem lança âncora a uma utopia em que os países se desafazem em nada, o que explica este paradoxo? A crise biliar do Pacheco Pereira que, de dois em dois anos, haja campeonato mundial ou europeu, arranja uma crónica para assoar o ranho no futebol e no que ele representa.
Este ano aconteceu no sábado, em prosa no Público. O Pacheco atirou-se aos “intelectuais do futebol” (categoria que, à exceção de uns eruditos que mostram uma cultura acima da média, julgava ser matéria inexistente). O Pacheco autoproclama-se líder dos intelectuais que abominam o futebol e o estado anestésico que toma de assalto a populaça. Já que estamos numa de presunção e água benta, aqui vai o meu contributo: eu, intelectual dos quarto costados (que a presunção me não seja negada) não filiado nos sectores que endeusam o futebol, serei, na dicotomia simplória do Pacheco, um intelectual seu aliado. Não é o caso, sem que isso me coloque de braço dado com os que elevam o basismo do futebol à condição de ciência complexa e literata. Ao ler a prosa rancorosa do Pacheco, apetece-me ir para uma tasca, estacionar à frente da televisão a ver um jogo qualquer, bebendo minis e comendo couratos, arrotando (literalmente; e palpites de treinador de bancada), urrando bestialidades contra o árbitro, insultando o adversário como se inimigo fosse, exultando ruidosamente com os golos da minha equipa, ameaçando bravata com os compinchas de tasca que tiverem o topete de discordar da minha fina análise.
Leio o Pacheco a salivar contra o futebol e não lhe perdoo por me fazer quase adepto fanático da coisa (descontado o óbvio exagero). O Pacheco deve ter traumas de infância: ele seria o menino menos dotado para os pontapés na bola. Ostracizado pelos demais meninos, o Pacheco entristeceu. Desenvolveu um rancor pelos primários que fazem do futebol o epicentro de tudo. Só não sei se tamanha azia não é primária e indecorosa para um intelectual desta linhagem. 

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