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Abordagem de rua. As palavras atropelavam-se
umas às outras (que as pessoas, em vez de abrandarem, estugavam o passo ao sentirem
que a investida é pedido de caridade), os voluntários solicitando a atenção dos
abordados. Há uma causa de braço dado com peditório. Solidariedade cívica que, confirmou-se
nos poucos minutos em que o olhar ali se deteve, é pouco praticada pela amostra
de abordados.
Os jovens voluntários nunca se
desfazem do sorriso. Nunca se desprendem dos bons modos. São gentis na
abordagem aos transeuntes – nada que soe às abordagens agressivas ensinadas
pelos gurus modernos das boas (ou, dir-se-ia, más) técnicas de vendas. Naqueles
minutos, uma meia centena de passeantes foi convidada a exercitar a
solidariedade. Só um ouviu a explicação dos jovens voluntários. Arrematou um
donativo. Com os demais, os voluntários nunca perdiam a gentileza. Perante a
recusa – mais ou menos apressada, mais ou menos veemente – de quem passava, os
voluntários continuavam a empunhar o mesmo sorriso e despediam-se com bons
modos. Tão bons os modos que eles é que se desculpavam por terem incomodado o
passeio, ou a azáfama, de quem passava. Os modos eram bons, e a insólita
exculpação também, para os boçais que nem um esgar destinavam aos
patrocinadores da boa causa.
Era uma educação olímpica, a
exibida pelo rapaz e pela rapariga que não se cansavam de arregimentar boas
almas com o propósito de abarrotar o cofre da associação benemérita. Uma
educação singular, quando é na aridez relacional que estamos metidos (não é
saloia exibição moralista; é constatação). Em que a rudeza é o vértice da
relação entre desconhecidos, a desconfiança cimentando a grosseria que devolve
a impessoalidade. Os jovens voluntários não foram treinados nos parâmetros do
contacto agressivo com potenciais clientes. Senão, perante tanta indiferença e
outras tantas recusas ostensivas, não perdiam tempo a pedir desculpa pela
abordagem rematando com um amável “boa tarde”.
Vai-se a ver e os cânones das
relações interpessoais no terceiro sector vêm noutros livros que nunca foram
lidos pelos gurus das modernas e agressivas técnicas de marketing.
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