19.7.12

Tanta boa educação que até impressiona


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Abordagem de rua. As palavras atropelavam-se umas às outras (que as pessoas, em vez de abrandarem, estugavam o passo ao sentirem que a investida é pedido de caridade), os voluntários solicitando a atenção dos abordados. Há uma causa de braço dado com peditório. Solidariedade cívica que, confirmou-se nos poucos minutos em que o olhar ali se deteve, é pouco praticada pela amostra de abordados.
Os jovens voluntários nunca se desfazem do sorriso. Nunca se desprendem dos bons modos. São gentis na abordagem aos transeuntes – nada que soe às abordagens agressivas ensinadas pelos gurus modernos das boas (ou, dir-se-ia, más) técnicas de vendas. Naqueles minutos, uma meia centena de passeantes foi convidada a exercitar a solidariedade. Só um ouviu a explicação dos jovens voluntários. Arrematou um donativo. Com os demais, os voluntários nunca perdiam a gentileza. Perante a recusa – mais ou menos apressada, mais ou menos veemente – de quem passava, os voluntários continuavam a empunhar o mesmo sorriso e despediam-se com bons modos. Tão bons os modos que eles é que se desculpavam por terem incomodado o passeio, ou a azáfama, de quem passava. Os modos eram bons, e a insólita exculpação também, para os boçais que nem um esgar destinavam aos patrocinadores da boa causa.
Era uma educação olímpica, a exibida pelo rapaz e pela rapariga que não se cansavam de arregimentar boas almas com o propósito de abarrotar o cofre da associação benemérita. Uma educação singular, quando é na aridez relacional que estamos metidos (não é saloia exibição moralista; é constatação). Em que a rudeza é o vértice da relação entre desconhecidos, a desconfiança cimentando a grosseria que devolve a impessoalidade. Os jovens voluntários não foram treinados nos parâmetros do contacto agressivo com potenciais clientes. Senão, perante tanta indiferença e outras tantas recusas ostensivas, não perdiam tempo a pedir desculpa pela abordagem rematando com um amável “boa tarde”.
Vai-se a ver e os cânones das relações interpessoais no terceiro sector vêm noutros livros que nunca foram lidos pelos gurus das modernas e agressivas técnicas de marketing. 

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