31.7.12

Between a rock and a hard place


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O habitat hostil. Flagelado por ventos impossíveis. O gelo amontoado, sinal da dura invernia. Ou o sol impiedoso na curta, mas feroz, estação estival. Chamam-lhe deserto. Não haveria senão mortos-vivos dispostos a habitar naquele lugar. E, todavia, por lá andava o homem rude. Teimosamente residente, impassível perante as travessuras dos elementos. Selava o exílio interior. Desaparecera de onde sempre fora. Não deixara rasto. Os que lhe eram queridos davam-no como desaparecido. Quase todos, no seu íntimo, desconfiavam que perecera sem se saber como. Só um punhado, entre os que ainda dele se lembravam, julgava que resistia algures, porventura sem motivos para dar conta da existência.
Lá longe, naquele sítio onde ninguém cuidava de habitar, persistia o homem rude numa peregrinação de isolamento. Quando aparecia vivalma – um caçador extraviado, um tresloucado perdido na sua errância, ou um explorador embebido no sacerdócio científico – refugiava-se num punhado de rochedos inacessíveis. Não queria conversa com gente.
Um dia, um explorador extravasou a curiosidade científica. Insistiu, irritantemente, em estabelecer contacto. O homem só quisera refugiar-se em lugares que decerto o teimoso explorador não saberia tactear. Pensou melhor. Se fosse correspondente na procura de comunicação, podia ser que saciasse a curiosidade e o assunto encontrava pedra tumular. Não inibiu o desconforto. Não escondeu desprazer, inquietação, antipatia. Mentiu com todos os dentes. Contou ao explorador que era uma estadia episódica. À procura de si mesmo. O explorador satisfez a demanda. Não voltou a dar notícias. O eremita do lugar inóspito resgatara o alívio.
Nessa noite, apoquentado pela conversa que tivera, devolveu à procedência um ror de interrogações. Continuava sem saber o que causara exílio tão sacrificial. Era um buraco negro na memória. Desconfiava que o refúgio naquele lugar impossível era uma covardia apontada contra si. Os poucos que lhe puseram a vista em cima julgavam que ele era exemplo de bravura e ensandecimento. E ele discordava, por entre a autocomiseração pela memória omissa. Temia que dela sobejassem atos hediondos que o levaram à fuga do mundo inteiro. Não se chama a isso covardia?

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