13.7.12

Antiguidade não é um posto


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As vetustas personagens. Repousam na provecta idade e nos pergaminhos da experiência. Não sabem, depois de tantas rugas e grisalhos cabelos, que a quantidade não passa a perna à qualidade.
Refugiam-se no cadastro da veterania para se protegerem contra a concorrência dos mais novos. Sabem que os mais novos sabem coisas que eles não souberam aprender. As muitas coisas que rimam com a mudança que os tempos novos trazem. Para não serem desapossados do pedestal, esmeram as maquinações que impossibilitam a ascendência dos mais novos. Cozinham as regras em seu proveito. Afivelam-se em corporações indestrutíveis: os mais novos que queiram fazer o seu caminho, ou tocam a melodia que os vetustos ensinam ou estão condenados ao desterro. Ou a esperar que os vetustos se jubilem ou engrossem a fileira dos cemitérios.
Quando sentem os mais novos a esgrimir argumentos que entalam a suposta superioridade dos velhotes, sacam da artilharia derradeira: a antiguidade é um posto. Os cabelos grisalhos, as carregadas olheiras que são património genético de uma vida em sucessivas canseiras, as rugas profundas que espartilham os poros da pele, tudo dita o respeito dos que ainda por lá não transitam. Não é argumento. É truque mal parido. É como dizer “sim, porque sim”. Não se hipoteca a autoridade dos vetustos, mesmo que dela destile um saber bolorento.
Em toda esta prosa, contra mim posso estar a falar. Assim como assim, se não cheguei à metade da vida não devo andar longe da simbólica demarcação. Queira a lucidez não se desprender e ir aprendendo com os ventos da mudança que vêm com o futuro. Não quero ser geronte agarrado às raízes do tempo que foi o sudário do conhecimento. Não quero morrer estando vivo. E quero chegar às vésperas da jubilação dizendo, nem que a voz seja trémula, “não, a antiguidade não é um posto”.

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