3.8.15

A vacina perfeita

Massive Attack, “Safe From Harm”, in https://www.youtube.com/watch?v=PKtTmZnVhhI
Os ventos nem sempre são rosáceas que alindam a paisagem. Podem ser agente agressor tingindo o rosto com cicatrizes que custam a sarar. Esses ventos, de serem tão invasores, ditam o refluxo das lágrimas. Das lágrimas que não conseguimos reprimir quando a melancolia faz de nós uma ilha indefesa. Podemos sentir a alma virada do avesso, mostrando as entranhas condoídas. Podemos percorrer uma procissão de lamentos sem serventia, pois que contracenam com vontades alheias, vontades que industriam a injúria que agride.
Uma janela pode servir de sortilégio. Uma janela que evita a entrada do vento desembainhado pela ira algures, o vento em que maceramos se não formos guerrilheiros em modo de indiferença. Precisamos de passar uma rasteira ao vento que nos dói. Precisamos de encontrar uma vacina que tem de ser perfeita. Nem que tenhamos de ser os inventores dessa vacina, comandando a janela a preceito para que não fique a jeito dos ventos iracundos.
É quando se impõe irmos ao fundo de nós, descobrir os esteios em que fundeamos. Do que não se elide com o vagaroso passar do tempo. Do que mantém duas almas numa simbiose gémea. Do istmo estreito onde só cabem duas almas que desfiam sorrisos perenes uma para a outra, as almas que sabem dizer-se o que importa sobretudo através de silêncios. Destituindo as contrariedades que não podem travar os sedimentos que fermentam na simbiose das almas que se sentem uníssonas. Congeminamos essa vacina, estudamos as equações necessárias para descobrir a poção que se espera. Podem-lhe chamar ilusão. Podem dizer que convocamos um autismo que não tira as medidas do que importa. Podem dizer o que quiserem, que nada do que disserem merece contraditório, só o mais absoluto silêncio. O silêncio que verte mil sentimentos, daqueles que interessam. Aqueles sentimentos que são só nossos e só nós sabemos como são sentidos.
E se nos quiserem comprar a fórmula da vacina perfeita, diremos que foi perdida algures no meio do mar, encarcerada numa garrafa à espera de envelhecer. Não nos levarão a mal o egoísmo.

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