Pond, “Giant
Tortoise” (live), in https://www.youtube.com/watch?v=N66b5BKagrc
Havemos de começar por
este lugar. Pelo lugar que consideramos a nossa cidade. Somos nativos desse
lugar. Pertencemos a ele – e a pertença tende a afirmar-se na exata proporção
do tempo em que nele habitamos. Se nascemos e vivemos no mesmo lugar, julgamos
ter credenciais de guia turístico caso elas venham a ser precisas. Se esta é a
nossa cidade, dela temos conhecimento tão profundo como o que temos das nossas
mãos.
As convenções podem ser
adulteradas por um olhar que se detenha no vagar. Se a cidade é uma metrópole grande,
não somos conhecedores de todas as ruas e vielas em que ela se estende. Podemos
ser apanhados de surpresa no conhecimento – dir-se-ia tardio, não fosse a conclusão
em si ser apressada, pois nada vem a destempo ao conhecimento. Descobrimos sítios
onde nunca fôramos. Lugares que quase entram pelos olhos, lugares que já foram
fronteiriços em anteriores visitas por lugares a eles limítrofes, mas que ficaram
para outras núpcias ou apenas foram atirados para a irrelevância. Podem ser
monumentos, talvez mais conhecidos pelos turistas do que dos nativos. Podem ser
ruelas estreitas perdidas em bairros medievais. Podem ser jardins que são como
uma varanda espraiada sobre o rio e de que já se ouvira falar, mas nunca a
vontade se conjugou com o seu conhecimento.
É quando nos sentimos
forasteiros na nossa cidade. Há uma teoria para este paradoxo do conhecimento. Quando
nos sentimos edis da nossa cidade, porque sobre ela expiamos perfeito
conhecimento, caímos na negligência. Ao contrário dos forasteiros, que soerguem
a cabeça para corresponderem à sede de conhecimento do desconhecido, os nossos
olhos não sobem além do enfiamento do olhar, paralelos ao chão que percorremos.
Ao contrário dos forasteiros, não damos atenção à toponímia, ou às placas que
indicam lugares turísticos, ou a detalhes belos de belos edifícios.
Passa-se o tempo e
passamos ao lado de muitos ângulos da nossa cidade. Concluímos, a cada passo em
que a redescobrimos, que andamos muito tempo a ser forasteiros dentro da nossa
cidade.
1 comentário:
"Passa-se o tempo e passamos ao lado de muitos ângulos da nossa cidade".
Totalmente de acordo, contudo, é essencial manter a ideia "viva".
Obrigada!
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