18.8.15

Uma teoria sobre a silly season

Throwing Musses, “Fish”, in https://www.youtube.com/watch?v=WxF7lj-6w3A
O mês das férias da maior parte das pessoas é para desligar da corrente. Talvez por isso, diz-se que a silly season coincide com a paragem das pessoas para recarregar as forças. Faz sentido. Por um lado, as pessoas estão, por assim dizer, um pouco desligadas da corrente. Ao estarem desligadas da corrente, tendem para o frívolo e o disparate. Por outro lado, se as férias servem para reabilitar energias é porque as pilhas estão em exaustão. A distração faz parte do cardápio das férias. E as pessoas entregam-se à militância do disparate, desviam o olhar para a futilidade, abraçam-se às coisas mundanas e a atenção está focada no que habitualmente não faz parte do rol de atividades.
Uma teoria alternativa sobre a silly season propõe o seguinte: talvez silly não seja a época, mas as pessoas na sua forma estrutural. Pois se esperam pelas férias para desembainhar as coisas mundanas, como se houvesse um equinócio mental que dividisse os dois hemisférios do cérebro (em férias e fora de férias), é porque as pessoas são os esteios do disparate. Têm o disparate latente. Com esta proposição, o autor da teoria jura que não quer ser julgador de comportamentos. Não está a insinuar que as pessoas são de segunda categoria por serem os nutrientes de uma época que é tida como disparatada. É apenas uma constatação. Que atire a primeira pedra quem nunca tenha dado o seu contributo para a silly season.
Também é de merecer consideração a seguir hipótese, em concurso da teoria: quem é fautor da silly season são pessoas. A silly season não nasce de geração espontânea. É alimentada por gente. São os seus ingredientes, sem os quais época nenhuma podia ser disparatada. São as pessoas que emprestam o disparate à época. Ou seja: a época ganha, por empréstimo, as credenciais patéticas das pessoas.
Por isso proponho, fazendo justiça à época que é esta, que se lhe retire a má credencial quando se lhe chama silly season. E que se devolva às pessoas a credencial. Passa a ser uma teoria das silly persons. Não chega a ser um contributo para os pergaminhos do pessimismo antropológico. É o que é. Talvez uma teoria tão silly como o objeto teorizado.

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