Throwing
Musses, “Fish”, in https://www.youtube.com/watch?v=WxF7lj-6w3A
O mês das férias da maior
parte das pessoas é para desligar da corrente. Talvez por isso, diz-se que a silly season coincide com a paragem das
pessoas para recarregar as forças. Faz sentido. Por um lado, as pessoas estão,
por assim dizer, um pouco desligadas da corrente. Ao estarem desligadas da
corrente, tendem para o frívolo e o disparate. Por outro lado, se as férias servem
para reabilitar energias é porque as pilhas estão em exaustão. A distração faz
parte do cardápio das férias. E as pessoas entregam-se à militância do
disparate, desviam o olhar para a futilidade, abraçam-se às coisas mundanas e a
atenção está focada no que habitualmente não faz parte do rol de atividades.
Uma teoria alternativa
sobre a silly season propõe o
seguinte: talvez silly não seja a
época, mas as pessoas na sua forma estrutural. Pois se esperam pelas férias
para desembainhar as coisas mundanas, como se houvesse um equinócio mental que
dividisse os dois hemisférios do cérebro (em férias e fora de férias), é porque
as pessoas são os esteios do disparate. Têm o disparate latente. Com esta
proposição, o autor da teoria jura que não quer ser julgador de comportamentos.
Não está a insinuar que as pessoas são de segunda categoria por serem os
nutrientes de uma época que é tida como disparatada. É apenas uma constatação.
Que atire a primeira pedra quem nunca tenha dado o seu contributo para a silly season.
Também é de merecer
consideração a seguir hipótese, em concurso da teoria: quem é fautor da silly season são pessoas. A silly season não nasce de geração
espontânea. É alimentada por gente. São os seus ingredientes, sem os quais
época nenhuma podia ser disparatada. São as pessoas que emprestam o disparate à
época. Ou seja: a época ganha, por empréstimo, as credenciais patéticas das
pessoas.
Por isso proponho,
fazendo justiça à época que é esta, que se lhe retire a má credencial quando se
lhe chama silly season. E que se
devolva às pessoas a credencial. Passa a ser uma teoria das silly persons. Não chega a ser um
contributo para os pergaminhos do pessimismo antropológico. É o que é. Talvez
uma teoria tão silly como o objeto
teorizado.
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