17.8.15

Marketing rural

KoRn, “Word Up”, in https://www.youtube.com/watch?v=XimIbnMbeRE
Percorrer as estradas nacionais, aquelas que foram despromovidas depois da modernidade das autoestradas, pode fornecer lições inspiradoras. Um dia destes, a caminho de Aveiro sem pressa de lá chegar, meti pela estrada nacional. Já esperava um enxame de rotundas, desde que os engenheiros rodoviários (e os autarcas a gastarem dinheiro que não havia) descobriram as rotundas para domesticar o trânsito. Na passagem pelas localidades, também há muitos semáforos. Servem para acalmar a velocidade, limitando-a a cinquenta quilómetros por hora, ou para regular a passagem dos veículos quando há cruzamentos que não foram transfigurados em rotundas. Ou como ponto de encontro com publicidade estática.
Num semáforo, enquanto esperava aguardava pela luz verde, olhei para a esquerda. Um outdoor publicitava a um sistema de alarme comercializado por uma empresa regional, a crer no nome e na morada. O cartaz era composto por letras garrafais que agrediam a vista, deixando à mostra a mensagem “diga não aos assaltos”. Para colorir a mensagem (e o cartaz), uma menina emprestava o busto avantajado. Empunhava uma metralhadora e apresentava cara de poucos amigos. Admito que a atenção de um homem (falo por experiência própria – a que tive ao dar de caras com este outdoor) seja despertada pelo busto de avantajadas dimensões da menina; o busto não está à mostra, deixa apenas pressentir uns seios com dimensões acima da média. Uma menina com ar de modelo a ameaçar os intrusos com artilharia pesada tem de chamar a atenção de quem ali para.
Julgo que os autores do outdoor conseguiram fazer passar a mensagem. Mas, a certa altura, já em andamento em direção a Aveiro, dei comigo a pensar se seriam os dotes físicos da modelo, ou a sua cara de poucos amigos, ou a arma de grande calibre, a cativar a atenção do público-alvo. Primeiro, os profissionais de marketing local dão como assente que a clientela deste ramo de negócio é do sexo masculino. Segundo, assumem que os clientes são heterossexuais. E, terceiro, dão por adquirido que a homenzarrada que equaciona a aquisição de um sistema de alarme, na dúvida entre sistemas concorrentes, dá preferência àquele que é publicitado por uma mulher que aparenta volúpia, músculo, linhagem belicista e antipatia.
Admito, ainda, que os gatunos locais pensarão duas vezes antes de assaltarem residências protegidas por este sistema de alarme. Não vão os seus sonhos ser assombrados pela imagem da menina lúbrica e de maus modos a dar-lhes uma tareia enquanto são apanhados a meio de um assalto.
O marketing rural oferece delícias assim.

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