KoRn, “Word
Up”, in https://www.youtube.com/watch?v=XimIbnMbeRE
Percorrer as estradas
nacionais, aquelas que foram despromovidas depois da modernidade das
autoestradas, pode fornecer lições inspiradoras. Um dia destes, a caminho de
Aveiro sem pressa de lá chegar, meti pela estrada nacional. Já esperava um
enxame de rotundas, desde que os engenheiros rodoviários (e os autarcas a
gastarem dinheiro que não havia) descobriram as rotundas para domesticar o
trânsito. Na passagem pelas localidades, também há muitos semáforos. Servem
para acalmar a velocidade, limitando-a a cinquenta quilómetros por hora, ou
para regular a passagem dos veículos quando há cruzamentos que não foram
transfigurados em rotundas. Ou como ponto de encontro com publicidade estática.
Num semáforo, enquanto
esperava aguardava pela luz verde, olhei para a esquerda. Um outdoor publicitava a um sistema de
alarme comercializado por uma empresa regional, a crer no nome e na morada. O
cartaz era composto por letras garrafais que agrediam a vista, deixando à
mostra a mensagem “diga não aos assaltos”.
Para colorir a mensagem (e o cartaz), uma menina emprestava o busto avantajado.
Empunhava uma metralhadora e apresentava cara de poucos amigos. Admito que a
atenção de um homem (falo por experiência própria – a que tive ao dar de caras
com este outdoor) seja despertada
pelo busto de avantajadas dimensões da menina; o busto não está à mostra, deixa
apenas pressentir uns seios com dimensões acima da média. Uma menina com ar de
modelo a ameaçar os intrusos com artilharia pesada tem de chamar a atenção de
quem ali para.
Julgo que os autores do outdoor conseguiram fazer passar a
mensagem. Mas, a certa altura, já em andamento em direção a Aveiro, dei comigo
a pensar se seriam os dotes físicos da modelo, ou a sua cara de poucos amigos,
ou a arma de grande calibre, a cativar a atenção do público-alvo. Primeiro, os
profissionais de marketing local dão
como assente que a clientela deste ramo de negócio é do sexo masculino.
Segundo, assumem que os clientes são heterossexuais. E, terceiro, dão por
adquirido que a homenzarrada que equaciona a aquisição de um sistema de alarme,
na dúvida entre sistemas concorrentes, dá preferência àquele que é publicitado
por uma mulher que aparenta volúpia, músculo, linhagem belicista e antipatia.
Admito, ainda, que os
gatunos locais pensarão duas vezes antes de assaltarem residências protegidas por
este sistema de alarme. Não vão os seus sonhos ser assombrados pela imagem da
menina lúbrica e de maus modos a dar-lhes uma tareia enquanto são apanhados a
meio de um assalto.
O marketing rural oferece delícias assim.
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