Cocorosie,
“Werewolf”, in https://www.youtube.com/watch?v=LgkAhj89IGA
Preceitos
básicos da função humana: os prémios são devidos a quem os faz por merecer.
Para que quem aprende a ser gente perceba que os troféus não chovem do céu. A
metáfora vulgarizada na sabedoria popular é, talvez, excessiva. É uma alegoria
em que entram cenouras e asnos, estes movidos pelo lenitivo de uma cenoura que
alguém coloca à frente dos seus olhos. Excessivo, porque nem todos caímos na
categoria de asno.
Descontando
o excesso da alegoria popular, o que se recria é um módico de responsabilidade.
Aprendemos mais tarde que este é o combustível da convivência com os outros (quando
ela não é corrompida por certos desvios de comportamento). Se queremos algo e
esse algo não depende apenas dos nossos atos volitivos, temos de provar que o
merecemos. Muitas vezes, somos nós que pegamos na cenoura e a acenamos diante
dos olhos. É o que se passa quando nos compete um desiderato e temos de
conceber um método para o cumprir. Outras vezes, correspondemos a estímulos que
vêm de fora. São outros que metem a cenoura à frente dos nossos olhos.
Respondemos ao estímulo: mal a cenoura se hasteia no campo de visão, mexemos as
pernas e os braços e damos uma injeção à vontade para romper a inação. A
cenoura pode ser um remédio para derrotar a inércia. Também é um manual de
crescimento, quando a cenoura é apresentada aos que ainda estão em processo de
formação.
Às
vezes, os preceitos passam pelo funil da distorção. Os troféus caem do céu
diretamente no regaço de quem por eles é presenteado. Não chega a haver
cenoura. É como se o mundo se movesse por milagre, pela simples conjugação das
aspirações que, por o serem, acabam por ser automaticamente convertidas em
realizações. Sem exigência de esforço ao destinatário do troféu. Sem que ele chegue
a perceber que todos porfiamos até alcançarmos o que tiver sido ambicionado.
Este é um dos sinalagmas de quem se educa para conviver com os outros.
O asno
maior é o que põe o asno à frente da cenoura.
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