Tame
Impala, “’Cause I’m a Man”, in https://www.youtube.com/watch?v=hefh9dFnChY
Podemos
sempre olhar pelo diadema da relatividade e aceitar que outros valores, noutras
alturas e noutras circunstâncias, aferem-se prioritários; nesta altura, o que vem
de dentro é a impressão – diria, o orgulho – que um desses bens maiores é a
independência.
A
independência de ser, de pensar, de atuar, de estar perante o mundo e os
outros. Porque não há maior carta de alforria do que a capacidade para se ser
como se quer ser, sem sentir as mãos algemadas por condições impostas de fora.
Sentindo que não há quem consiga ser intruso na forma de ser, no pensamento não
amestrado, nas palavras proferidas, nas ações feitas. Pode até haver quem ache
que é diligente nesta intrusiva simbiose de sentido único; coisa diferente é
postular o sucesso a que tal gente não está fadada ao projetar tamanho
propósito. Vêm bater à porta errada.
A
possibilidade de haver quem infrinja as fronteiras da independência que
correspondem aos limites do outro materializa uma condição prática que desmente
preceitos que fruiriam de teorias. O tempo moderno pode ser o da consagração da
autonomia do ser. É a lição das teorias. Mas há um descaminho entre os princípios
e a prática, quando esbarramos em gente que faz tábua rasa daqueles princípios.
Ou porque têm deles uma interpretação distorcida, ou porque não há nos seus
genes o respeito por tais princípios. É gente infame, que nem sequer consegue
perceber a desdita da reciprocidade. Ou como podem as coisas sofrer uma
reversão e sobre aquela infame gente se abater a infâmia de que quiseram ser
fautores sobre outros. Quando alguém exorbita a sua autonomia e invade a
autonomia do outro, é-lhe dado a imaginar como se sentiria se o processo
tivesse sentido inverso?
Porventura,
exibições de poder, ou apenas uma predisposição genética, são o substrato do
autismo de quem invade a independência dos outros, querendo-os, ao invés,
dependentes. Correndo o risco do excesso retórico, dir-se-ia tratar de uma
reconfiguração moderna da escravatura.
Não
caio na ávida tentação de desejar a gente deste jaez o mesmo que querem aos
demais. Eles merecem a mesma independência que para mim é princípio supremo.
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