Sol
Seppy, “Entre One”, in https://www.youtube.com/watch?v=MgeJNfCXV_Q
O
negócio foi proposto ao vigário da terra. Por dois “empreendedores” (no jargão da
moda) que estiveram emigrados na América e queriam o progresso para a terriola
a que estavam de regresso. Nas traseiras da igreja havia uns anexos. Dantes
eram usados para a catequese e para acolher obras de caridade com o patrocínio
da paróquia. Mas a modernidade trouxe a aridez demográfica (as crianças rareavam)
e a retração da generosidade (a crise com dupla conotação: a da fé e a dos
dinheiros).
Em
estando devolutos os anexos, os empreendedores propuseram ao vigário a sua
reconversão a outro ramo do negócio: um bordel. A ideia era fazer da terriola
um lugar por alguma razão centrípeto. Para atrair as gentes das redondezas.
Como o negócio das mulheres dos prazeres continuava a prosperar, mau grado a
acintosa crise (assim concluíra o estudo de mercado com elevada cientificidade
encomendado pelos empreendedores), só faltava convencer o pároco a autorizar o
trepasse da atividade. O cura hesitou. Sabia que a hierarquia eclesiástica,
carcomida pelo conservadorismo de sacristia, reprovaria o negócio. E sabia que
os setores conservadores, de uma ponta à outra do país, não dariam sossego,
protestando contra a heresia da negociata. Enquanto amadureceu as ideias, pediu
recato aos empreendedores. O negócio seria segredo absoluto até ser revelado,
se essa fosse a decisão do vigário.
Por
fim, tomou uma resolução. Aceitou o trespasse do negócio. Assim como assim, deus
não conseguira banir do planeta a profissão em que as mulheres vendem prazeres.
E tal como o pároco cuidava dos males espirituais dos paroquianos, havia outra
forma de tomar conta desses males – misturando a imaterialidade da alma com os
prazeres tangíveis do corpo.
O
vigário foi retoricamente sovado em público pelos detratores da ideia. Mas quem
mais protestou foram as feministas. Protestaram contra a desigualdade selada
pela decisão do sacerdote. Queriam que uma ala do bordel lhes fosse dedicada.
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