The
Durutti Column, “Tomorrow”, in https://www.youtube.com/watch?v=uvPj_5ndcxI
Os
olhos perguntam ao mar se é preciso um roteiro para o futuro. Ao jeito de um
caderno de encargos que inventaria os propósitos vindouros. O mar pede aos
olhos para pedirem ao pensamento um pensamento sistemático sobre tamanha
empreitada. Que seja o próprio pensamento a arregimentar o roteiro que deve
cerzir os passos que hão de vir no depois que vem depois do exercício
prospetivo. Que desideratos se inscrevem na tabela de precedências? Que
desafios estão no ponto de mira? E que variáveis exteriores devem ser
compulsadas, em forma de obstáculos, e se o são tão insuperáveis que mais vale
prescindir de um desiderato por poder ser impossível? O pensamento tece-se,
convulsivo, errando pelas margens de território desconhecido. Porque o futuro é
um não tempo, conclui o pensamento em ato reflexivo. Porventura um caderno de
encargos seja a forma disfarçada de algemar a vontade. Ou, apenas, de escapar à
espessura do tempo atual. E por mais que não seja de esperar que o que se
viesse a alistar no caderno de encargos seja de esperar, outro sobressalto
despoja o caderno de encargos de visibilidade: por mais que o pensamento dê
voltas sobre si mesmo, por mais que vá ao mais fundo do que há, ou que
empreenda uma viagem pelo desconhecido que é o exterior, emudece-se na altura
de passar ao papel o inventário das coisas esperadas da vontade vindoura.
Aliás, o pensamento rejeita oráculos. Sabe que no que vier do depois que vem
depois de hoje há um importante quinhão que não depende da vontade própria. E,
assim como assim, tecer os mandamentos de um caderno de encargos é como
agrilhoar a vontade a um tempo que ainda não é tempo tangível. O pensamento
aconselha o mar a dizer aos olhos que o interrogam que não tem serventia
esboçar um caderno de encargos.
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