Morphine,
“Cure for Pain” (live on Jools Holland), in https://www.youtube.com/watch?v=vgSH_eXjJA0
Palavras diurnas. Motes
silenciosos. A chuva abundante que sobe das pradarias às montanhas onde
fundeiam as almas. Não se retardam, as sombras do sol embaciado. Não se
retardam porque julgamo-las imperativas, condição necessária para a madurez da
alma. Julgamos assim. Somos conduzidos por uma bissetriz que corta os mantos
diáfanos que nos aprisionavam. Procuramos um agora que seja a tinta da china
que sela o triunvirato capaz. De sermos leais às palavras, empenhados aos
sentimentos que interessam, vigilantes contra as cortinas de fumo que
contaminam a lucidez. Para lá chegarmos, depomos os sobressaltos no altar maior
que está no promontório mais alto entre as cumeadas. Para lá chegarmos,
conversamos com as raízes das árvores, com as rochas espalhadas nos trilhos,
com o musgo acamado nas rochas paralelas aos pés. Sentimos o pulsar das
montanhas. Sentimo-las a verberar as iras profundas, que são nossa catarse.
Pois não sabemos as cores do viés de que não somos fautores, somos apenas a caução
do caudal límpido que frui nas nossas veias. E as montanhas entretecem os seus
prantos e lamentos, como são pródigas em sussurrar poemas de mel e frutos, ou
apenas em ensinarem silêncios admiráveis. Recolhemos todas as palavras das
montanhas falantes. Como se fossemos agentes enciclopédicos da serrania que nos
move. Em demanda de uma fruição total dos elementos, adiando o sono com a
virtude de extrair todo o sumo dos frutos sanguíneos. Aprendemos com as
montanhas que falam. Somos seus ouvintes. Nos lamentos e nas celebrações,
tiramos as medidas ao excerto murmurado pelas montanhas. Até que ao abrirmos as
algemas que soltam as almas inteiras sejamos iguais às montanhas que falam.
Desmedidas, deletérias, harmoniosas, no sopesar das forças de sentido contrário
que arrimam ao cais. Até que sejamos inteiros, como inteiras são as montanhas
que falam. Para, depois, ser a nossa vez de falar.
Sem comentários:
Enviar um comentário