Antony
and the Johnsons, “Mysteries of Love”, in https://www.youtube.com/watch?v=GEv1zxgZSxg
Vai às páginas deste
livro. Do livro com folhas finas, como se fossem linho de primeira. Do livro
com as páginas que não amarelecem, de tanto resplandecerem por serem lidas por
ti. O livro que te respira, que contigo verte as lágrimas de suor que ficam
embebidas na lombada – e, por isso, a lombada parece desgastada pelo tempo (fenómeno
que tem o selo da normalidade). No livro, as palavras vêm vertidas com a
suavidade do tempo. Adornadas pelo ouro que solfeja desde o interior, à medida
que percorres as avenidas dedilhadas pelo autor. No fim de contas, o livro é
uma coautoria. Escrito a duas mãos, em sintonia. Por vezes, regressa a páginas
já visitadas. Escolhe-as ao acaso. Relê-as. Só para perceberes as frutas que
amadureceram, para contrastares as melodias ciciadas dantes com as que ocupam o
lugar no tempo em que essas páginas forem relidas. Faz anotações para memória
futura. Escolhe as melhores histórias enquanto esperas pelas que vierem depois.
Porque contos cheios de encanto hão de continuar a emoldurar o tempo de então,
entoando frases quiméricas que chegam de mansinho à porta do ouvido. Contos
cheios de encanto, para dissolver todo o vinagre que bolça de algures. Entretanto,
o livro amontoa contos destes. As páginas não se cansam. Não escolhem tempos a
preceito para irromperem entre as águas lodosas que estão em redor. As páginas
transpiram o mel ávido que derrota as fronteiras inócuas do tempo repetido. Crescemos
com as páginas bucólicas do livro. As suas páginas embebem-se num sortilégio: o
de sermos nós suas musas e, ao mesmo tempo, os únicos a quem aproveita os
contos fantásticos lidos nas suas letras douradas. Se cheirares as páginas
deste livro, notarás o cheiro nosso. Porque elas vêm de dentro das nossas veias,
sob a batuta do sangue que pulsa num frémito e que é a febre que somos em
uníssono. Este livro é um best seller.
Feito de vírgulas pacientemente depositadas entre palavras que o instinto manda
escolher a dedo. Um livro sem fim. Nem depois da finitude que as leis do
universo mandam lavrar.
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