Massive
Attack, “Safe From Harm”, in https://www.youtube.com/watch?v=PKtTmZnVhhI
Os ventos nem sempre são rosáceas
que alindam a paisagem. Podem ser agente agressor tingindo o rosto com cicatrizes
que custam a sarar. Esses ventos, de serem tão invasores, ditam o refluxo das lágrimas.
Das lágrimas que não conseguimos reprimir quando a melancolia faz de nós uma
ilha indefesa. Podemos sentir a alma virada do avesso, mostrando as entranhas condoídas.
Podemos percorrer uma procissão de lamentos sem serventia, pois que contracenam
com vontades alheias, vontades que industriam a injúria que agride.
Uma janela pode servir de
sortilégio. Uma janela que evita a entrada do vento desembainhado pela ira
algures, o vento em que maceramos se não formos guerrilheiros em modo de indiferença.
Precisamos de passar uma rasteira ao vento que nos dói. Precisamos de encontrar
uma vacina que tem de ser perfeita. Nem que tenhamos de ser os inventores dessa
vacina, comandando a janela a preceito para que não fique a jeito dos ventos
iracundos.
É quando se impõe irmos
ao fundo de nós, descobrir os esteios em que fundeamos. Do que não se elide com
o vagaroso passar do tempo. Do que mantém duas almas numa simbiose gémea. Do istmo
estreito onde só cabem duas almas que desfiam sorrisos perenes uma para a
outra, as almas que sabem dizer-se o que importa sobretudo através de silêncios.
Destituindo as contrariedades que não podem travar os sedimentos que fermentam
na simbiose das almas que se sentem uníssonas. Congeminamos essa vacina,
estudamos as equações necessárias para descobrir a poção que se espera. Podem-lhe
chamar ilusão. Podem dizer que convocamos um autismo que não tira as medidas do
que importa. Podem dizer o que quiserem, que nada do que disserem merece contraditório,
só o mais absoluto silêncio. O silêncio que verte mil sentimentos, daqueles que
interessam. Aqueles sentimentos que são só nossos e só nós sabemos como são
sentidos.
E se nos quiserem comprar
a fórmula da vacina perfeita, diremos que foi perdida algures no meio do mar,
encarcerada numa garrafa à espera de envelhecer. Não nos levarão a mal o egoísmo.
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