20.8.15

Unfinished business

Slowdive, “When the Sun Hits” (live), in https://www.youtube.com/watch?v=O5iK_mqtJ04
E se as histórias não tivessem embebida uma qualquer moral? As histórias seriam inúteis, diriam uns. Pois que uma história tem de incluir uma moral, qualquer que ela seja, nem que seja a negação de uma moral dominante. Outros dirão: uma moral adejando sobre a mensagem é assassina da história. E pior: contamina as credenciais do narrador. É um rótulo, um rótulo qualquer, que se pespega à sua pele.
Há autores que não se importam de ter uma conotação. Outros ensaiam equilíbrios quase impossíveis para que não se lhes descubram preferências que deixem à mostra uma qualquer moral. É uma tarefa árdua. Quando se conta uma história, é difícil vir despida de significado. Com o significado vem, invariavelmente, uma matiz. Pode não se dar conta, mas a matiz está presente na mensagem que vem à tona com o desenlace da história. Os que não se importam com rótulos que são adesivos à sua pele não sentem incómodo com a construção de narrativas impregnadas de um certo sentido. Nem que desaguem em truísmos. Pois os truísmos são mensagem e neles se embebe uma moral qualquer, nem que seja uma moral popularizada pelo gosto das maiorias. É fácil escrever desta maneira.
Mais difícil é arremeter pelos caminhos esconsos de uma moral reprovada (muitos diriam, portanto, pela antítese da moral). Por não ser popular. Por ser objeto de reprovação, que pode atirar o autor para o papel de pária. Até aqui a mensagem traz uma moral a tiracolo. Nem que seja aferida pelos contrafortes dos cânones da moral que se aceita. Não é difícil polemizar quando um autor se aventura pela provocação dos costumes.
Onde está o dilema? Na insatisfação perene de quem convencionar que um história tem de promover uma moral e a alternativa de descobrir nos corredores da narrativa meios de a desligar de qualquer sentido. A primeira hipótese é a mais vulgar. A alternativa parece uma impossibilidade. Por mais que o autor procure esterilizar a história, haverá leitores que farão o favor de encontrar meios hermenêuticos de achar um sentido (e, assim, uma moral).

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