8.3.16

Deixa o título para o fim

Teho Teardo & Blixa Bargeld, “Alone With the Moon”, in https://www.youtube.com/watch?v=DQhMiiHowCg
Toma o mar nas mãos. O mar inteiro. Não te intimides: por maior que seja o mar, ele cabe todo nas tuas mãos. Se quiseres, és tutor das suas ondas. Desvia as correntes só para pregares uma partida ao clima. E põe a nevar onde a neve não é visitação. Traz o sal para as mais altas montanhas.
Não te abraces ao desespero, por mais que o desespero seja uma granada prestes a desencavilhar na tua boca. Se preciso for, decreta tratados universais sobre a paz. Desmobiliza exércitos com a poderosa palavra poética que se entretece nos nevoeiros que embaciam os néscios. E compõe uma aresta que desarrumou o jardim da tua casa, nem que não aches jeito para a função.
Dança. Dança, mesmo que não saibas. Ou te convenças que a dança em teus pés é um desengonçado desamor de arte, um desfiladeiro onde te podes despedaçar. Enlaça em tua coreografia a alma igual, a tua outra metade, que trata de despojar a madrugada de todas as poeiras nocivas. Decai numa dança simbólica, para que a fusão dos corpos seja uma epifania singular.
Não cuides da vanidade do tempo. Sabes como o tempo é venal, por mais que te digam o contrário os curadores da mesmice torpe. E, assim como assim, o hoje é sempre uma véspera de alguma coisa. Sempre. Na imagem submersa de um copo cheio de água, onde o tempo se emoldura na intemporalidade que queremos que haja. Ou no interior das nuvens que tingem o céu à volta, no casulo onde os segredos arpoam o amor maior à pele a preceito.
Ambiciona os planos maiores. Aqueles que julgarias impossíveis quando tinhas um ponto de partida acanhado. Mete a fasquia pela mais alta bitola, lá onde os montes beijam as cumeadas e tudo se alcança com um olhar altaneiro. Desmente que os sonhos sejam patranha que atraiçoa os sentidos, condenados ao desassossego de um nada que não se derrota. Refaz a frase-feita: persegues os sonhos e, a páginas tantas, os sonhos imitam as tuas proezas. Mas não queiras um clamor de multidão, que a temperança faz de ti penhor inteiro das proezas que combinam com os planos que eram maiores à partida e ainda maiores à chegada.
E depois, deixa o título guardado para o fim.

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