18.3.16

O dever de não capitular

Sunflower Bean, “I Hear Voices”, in https://www.youtube.com/watch?v=rGhp-OPbpi4
Custosas demandas as que imperam no roteiro de que se é viajante. Danos à memória e à integridade não merecem indulgência. Dirão: mas se o preço é uma conturbada demanda, com o chão levantado e em ebulição, não será procedimento melhor assobiar para o ar e convidar a lua a temperar o estado febril? Dirão, ainda: capitular é o mal menor quando escarpada empreitada se adivinha e a incerteza não cauciona resolução a preceito.
Não gosto de capitulações. Não gosto quando elas implicam com o cerne do ser. Não é o gosto gratuito por uma boa peleja, que as pelejas desarrumam a serenidade tão dispendiosa. Há que sopesar a peleja. Tirar as suas medidas, só para abonar se é credora de atenção ou se é preferível arrumá-la debaixo de um tapete, dedicando olímpica indiferença a quem tratou da sua sementeira. A dignidade tem um estalão variável se perguntarmos a diferentes pessoas como a medem. Cada um é o juiz único para aferir os danos causados à pessoa própria e se é credor de gládio a preceito.
Digo-o com desassombro, convencido que transito nos antípodas da confrontação (mas posso estar enganado). Se transigir vem de braço dado com o curvar diante de outros, em jeito de humilhação que causa danos suplementares, capitular é a única opção a excluir. Dirão, os de fora, que o sono locupletado e a angústia que sobe à boca de cena podem ser onerosos, um oráculo a pressagiar a ponderação da rendição. É tudo uma questão de sopesos comparativos: no outro prato da balança está o ónus de capitular, quando as dores interiores incendiadas pela inércia constituem consumição ainda maior.
Capitular é a paga frívola para fintar uma rota de colisão. Não capitular é o imperativo para a alma se sentir lavada. Para não desviar os olhos do soez que adeja, deixando o agravo abater-se sobre a alma. Pois a alma não está à venda. Nem aceita as exprobrações que a corrompam. Eis a fronteira da não capitulação.   

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