Portishead, “Magic Doors”,
in https://www.youtube.com/watch?v=VCUtrLn42fc
Sobranceiras ao rio,
as estradas corriam paralelas. A poeira levantada pelos pneus deslizava para o
fundo vale, murando o leito do rio. As duas cumeadas, uma de cada lado do rio,
foram o lugar escolhido para escavar os caminhos de terra. Talvez fosse mais
fácil. Na cumeada há planura. Mas a estrada – as duas estradas paralelas – não
podia continuar assim até ao infinito. Era possível perceber a finitude das
montanhas. Mais à frente, elas começavam a descair, prometendo encontrar o rio.
Um pouco depois, a
estrada pedregosa deu de caras com uma encruzilhada. Podia seguir quatro caminhos.
Dois deles tinham pareciam fugir do rio. Os outros dois, pelo rumo que deixavam
entender, talvez quisessem ir ao encontro do rio. Hesitou. Nem sequer sabia se
o rio era a sua demanda, muito menos qual dos quatro caminhos haveria de
escolher. À falta de mapa, e na ausência de toponímia esclarecedora dos
destinos que dimanavam do entroncamento, meditou sobre o caminho por onde
tomaria caminho. Admitia estar perdido. Desorientado. Já não era a primeira vez
que tinha esta impressão. Naqueles montes, parecia que os pontos cardeais não
quadravam com as indicações do sol.
Tinha de tomar uma
resolução. Já estava parado há mais de meia hora e o sol seguia caminho para o
horizonte. Não era sensato ter a noite por companhia num lugar ermo e
desconhecido. Decidira atirar-se pelo caminho que parecia ter ramificação com o
rio. Hesitou outra vez. E se o caminho fosse desaguar a um cais improvisado,
sem ponte que deixasse passar o rio? E se a travessia do rio o levasse a outra
encruzilhada mais remota? A travessia do rio não era caução de saída do
labirinto em que se metera.
Já chegava de
tergiversações! Meteu pelo segundo caminho a contar da direita (para quem via a
encruzilhada de frente). Começou a descer. Era uma descida íngreme, denotando
proximidade gradual com o rio. Todavia, não conseguia deitar os olhos no rio; à
sua direita, continuava a ver montes cheios de pedra e sem vegetação. A certa
altura, o terreno nivelou-se. Terminara a descida e já era possível conviver
com arbustos e árvores rasteiras. Outra indicação de que o rio estava próximo. Um
rumorejo distante confirmava a impressão. O ruído ficava mais claro, mais
próximo. Até que encontrou o rio. Já não era um fio delgado de água a escavar
um vale profundo entre as duas cumeadas. Levava mais caudal.
À frente, encontrou
um cais rudimentar onde aportara uma barcaça. Perguntou ao marinheiro onde
encontrar a localidade mais próxima, agora que o entardecer dera lugar à ainda
tímida noite. O marinheiro respondeu que tinha de subir a estrada – a mesma
estrada por onde viera. Ao chegar a um cruzamento de quatro caminhos, devia
seguir pelo caminho que estivesse mais à direita. Depois era mais meia hora de
caminho.
E ele percebeu que a
sua intuição não era de confiar.
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