Massive
Attack, “Angel”, in https://www.youtube.com/watch?v=hbe3CQamF8k
Como se aprende nos
escuteiros: ajudar as velhinhas a atravessar as ruas em segurança. Os lobinhos
são como anjos protetores que mandam os carros abrandar da velocidade
estonteante com que circulam, não vão atropelar as indefesas anciãs. Depois
semeiam-se medalhas de mérito na lapela dos escuteiros, que as ostentam com
indisfarçável orgulho. A bondade é tributária da recompensa.
As medalhas de mérito
não deviam andar à mostra. O que só confirma que os escuteiros são
exibicionistas e moralistas de primeira água (o que, no caso do segundo
atributo, não constitui virtude). São moralistas, porque gostam da posição
muito pedagógica de quem abre os olhos ao cidadão distraído das suas cívicas
obrigações, apontando o dedo ao “caminho certo” para que a sociedade seja um
lugar respirável. Que me lembre, ninguém pediu aos escuteiros e a outros
moralistas de idêntica cepa para serem educadores dos cidadãos que
eventualmente andem de palas nos olhos. Segundo (e voltando à primeira
desconsideração), os moralistas e os escuteiros reivindicam a posição altaneira
de quem arroteou o “caminho certo”. Exigem medalhas em contrapartida. Parecem o
cão Mutley excitado à espera que Dick Darstadly pespegue uma medalha no seu
peito. Não viria grande mal ao mundo, não tivesse a exigência segundas intenções:
esfregar nas fuças outras as medalhas atribuídas por louváveis serviços ao
grupo. É exibicionismo.
Se fossem altruístas, e
se praticassem a bondade sem segundas intenções (o que eles configuram como
bondade, para o caso de a bondade poder ser delimitada com objetividade e
representar virtude admitida), não sobraria a vaidade das medalhas de mérito
ostentadas à lapela. Porque, depois, nós, desafortunados a quem não são dadas
proezas que permitam esbofetear ufanamente a generosidade praticada em favor do
próximo, somos convidados a sucessivas genuflexões aos medalhados. É como se tivéssemos
de agradecer porque os escuteiros e afins praticaram generosidade para fora de
si mesmos.
Segundas intenções,
convém lembrar outra vez. O que diminui o palco para a moralidade em cujo altar
se entronizam e aumenta a mácula do exibicionismo. E como os dois (moralidade e
exibicionismo) costumam fazer parelha, fujo a sete pés de escuteiros e
moralistas quejandos. Prefiro as minhas fraquezas. E a discrição.
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