Interpol,
“C’mere”, in https://www.youtube.com/watch?v=vaDw4CAcXVE
Contratado para a provocação intelectual. Para semear
informações falsas, sobre quem o contratou e sobre os adversários (por fora e por
dentro). Sabia que os nacos de informação, plantados sistematicamente na
imprensa e noutros lugares com consulta pública, desatavam a reação dos
adversários. Sabia que eles não ficavam impassíveis ao chorrilho de inverdades
que propositadamente lavrava. Quem o contratou sabia que era lídimo
representante da maledicência. Que dominava a arte da propagação da informação,
predicado imprescindível para levar a informação ao moinho desejado (se não, a
contratação teria sido inútil).
Quase toda a gente sabia que era mentiroso compulsivo. Fizera
tirocínio na desarte da manipulação
com os melhores mestres. Não era de confiança. E, ainda assim, tinha uma vasta
audiência a seus pés. Apesar de quase ninguém lhe imputar credibilidade. Era
daquelas pessoas que se fazia ouvir pela polémica, por ser irascível com os adversários,
implacável. Por espalhar a confusão no chão armadilhado. Um fenómeno insólito.
Não tinha amigos. Não tinha seguidores. Tinha, isso sim, um largo exército de
detratores, gente com a mira afinada ao seu pescoço, ávida de o espremer no
alguidar onde eram sangradas as vítimas sacrificiais que descompunham a letargia
desejada. Até quem o contratou sabia que, mais tarde ou mais cedo, acabaria por
ser apanhado no bardo da sua má linhagem.
Tinha audiência. E mercado, mercê da audiência que arregimentava,
quase sempre em antinomia com o que declarava ou com o que fazia (ou mandava
fazer). Era ver os adversários empertigados, a desmentirem mais uma prosa semeada
com precisão cirúrgica. Era vê-los a caírem na armadilha, incapazes do silêncio
que (nunca o perceberam) era o melhor critério para a sua desimportância. Pelo contrário: caíam no ardil e julgavam o
imperativo de desmentir a informação. Não sabiam que às contrainformações se
responde com um estridente nada. Até aqui caíam no engodo: ele dizia, repetidas
vezes, que uma provocação não pode ficar sem resposta. Os provocados com as
inverdades por ele caucionadas até nisto lhe prestavam (involuntária)
homenagem: não havia contrainformação que ficasse sem reação.
E ele ria-se. Desbragadamente. Enquanto cultivava o
ensimesmar autista, a solidão e o gosto perverso de se saber odiado por quase
toda a gente.
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