1.3.16

Marear as possibilidades

U.S. Girls, “Window Shades”, in https://www.youtube.com/watch?v=LoTehhwo7Iw
Qualquer que seja a equação, o resultado sela uma possibilidade. E as possibilidades quadram com a critério dos sentidos quando intuem que não adianta porfiar desideratos longínquos, dada a sua inacessibilidade. Daí que sejamos instruídos, pelos costumes e pela doutrina escolar, a não medir por alta craveira a bitola das pretensões. Não adianta lobrigar complexas equações se, a partir de certa altura, se perde o fio à meada e pela frente está um labirinto sem saída.
Alguns, temerários, alinhavam o apetite pelo azimute dos desafios. Entediam-se ao saber que o chão pela frente é um palco liso e sem cor, uma infinita reta que não afiança a intrepidez de quem se atira para as sinuosas curvas a vertiginosa velocidade. Não medem, os intrépidos, as baias das possibilidades. Às vezes, o sangue vertido e as cicatrizes perenes contam como o corpo foi convocado para ser amparo dos danos da coragem inaudita, de como foi avalista de uma impossibilidade.
Traduz-se o império das possibilidades numa hecatombe das feéricas sensações que alguns exigem como penhor da existência? Julgo saber que não há medida objetiva para tirar a resposta a limpo. Descontando os ilimites das leis da física, ou as impossibilidades da natureza, é delgada a fronteira entre as águas mansas das possibilidades e as areias movediças das impossibilidades, às vezes quase impercetível. Jogam-se os dados sobre o tabuleiro e a carta escondida na manga pode ser convite para a vertigem. E quando se julga poder açambarcam as ametistas escondidas no tesouro, sai a fava: os escombros abatem-se sobre o corpo indefeso. Que assim testemunha, por intermediação da dor, o peso das impossibilidades que o arqueia.
Decifrar as fronteiras dos limites não inclui uma redenção que impeça a ousadia dos passos convocados pelo porvir. Está sempre à disposição testar os limites que distinguem uma possibilidade da sua antítese. Em caso de dúvida, especialmente para os que remetem o marear das possibilidades à letargia, sobra a possibilidade de iludir a impossibilidade. Convertendo-a, depois, em possibilidade.

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