Teho Teardo & Blixa
Bargeld, “Alone With the Moon”, in https://www.youtube.com/watch?v=DQhMiiHowCg
Toma o mar nas mãos. O mar inteiro. Não te intimides:
por maior que seja o mar, ele cabe todo nas tuas mãos. Se quiseres, és tutor
das suas ondas. Desvia as correntes só para pregares uma partida ao clima. E põe
a nevar onde a neve não é visitação. Traz o sal para as mais altas montanhas.
Não te abraces ao desespero, por mais que o desespero
seja uma granada prestes a desencavilhar na tua boca. Se preciso for, decreta
tratados universais sobre a paz. Desmobiliza exércitos com a poderosa palavra
poética que se entretece nos nevoeiros que embaciam os néscios. E compõe uma
aresta que desarrumou o jardim da tua casa, nem que não aches jeito para a função.
Dança. Dança, mesmo que não saibas. Ou te convenças que
a dança em teus pés é um desengonçado desamor de arte, um desfiladeiro onde te
podes despedaçar. Enlaça em tua coreografia a alma igual, a tua outra metade,
que trata de despojar a madrugada de todas as poeiras nocivas. Decai numa dança
simbólica, para que a fusão dos corpos seja uma epifania singular.
Não cuides da vanidade do tempo. Sabes como o tempo é
venal, por mais que te digam o contrário os curadores da mesmice torpe. E,
assim como assim, o hoje é sempre uma véspera de alguma coisa. Sempre. Na imagem
submersa de um copo cheio de água, onde o tempo se emoldura na intemporalidade
que queremos que haja. Ou no interior das nuvens que tingem o céu à volta, no
casulo onde os segredos arpoam o amor maior à pele a preceito.
Ambiciona os planos maiores. Aqueles que julgarias
impossíveis quando tinhas um ponto de partida acanhado. Mete a fasquia pela
mais alta bitola, lá onde os montes beijam as cumeadas e tudo se alcança com um
olhar altaneiro. Desmente que os sonhos sejam patranha que atraiçoa os sentidos,
condenados ao desassossego de um nada que não se derrota. Refaz a frase-feita:
persegues os sonhos e, a páginas tantas, os sonhos imitam as tuas proezas. Mas não
queiras um clamor de multidão, que a temperança faz de ti penhor inteiro das
proezas que combinam com os planos que eram maiores à partida e ainda maiores à
chegada.
E depois, deixa o título guardado para o fim.
Sem comentários:
Enviar um comentário